São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Empresas conduzem pesquisa contra câncer e gangrena gasosa

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Andy Coghlan divulgou em ``New Scientist" dois artigos sobre tratamento de prevenção de câncer e da gangrena gasosa.
O primeiro resume experiências ainda preliminares coordenadas por Gerald Beattie, da unidade oncológica médica do Fundo de Pesquisa do Câncer, em Edimburgo (Reino Unido).
Em lugar da estratégia comumente seguida no tratamento do câncer –retirada do tumor e de todas as suas proliferações–, Beattie prefere conservar o tumor e por meio de uma droga nova (batimastat) impedir o suprimento de sangue ao neoplasma e a formação de metástases.
O batimastat, desenvolvido pela British Bio-technology, bloqueia a ação de enzimas (metaloproteinases) da matriz. Esta é o cimento que mantém em seu lugar as células nos tecidos.
Segundo Beattie, aquelas enzimas destroem a matriz e assim permitem que células se destaquem dos tumores e se espalhem no corpo, gerando outros tumores.
A droga foi projetada para ligar-se aos átomos de zinco das partes ativas das enzimas, que assim se tornam incapazes de agir.
A droga funcionou adequadamente conforme esse modelo em células humanas implantadas em camundongos. Os animais tratados viveram cinco a sete vezes mais tempo que os que receberam placebo, isto é, preparado completamente inócuo.
Além disso, alguns tumores ficaram cercados por uma camada de colágeno, tecido de sustentação e outras funções muito difundido nos organismos animais.
Por sua vez, os vasos sanguíneos desapareceram completamente, deixando os tumores sem abastecimento de sangue.
A British Bio-tecnology testou a inocuidade da droga em 15 pacientes com câncer abdominal adiantado e vai agora promover o estudo de sua eficácia em 300 pacientes distribuídos por vários hospitais da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos.
Numa reunião na capital da Holanda, Beattie relatou a eficácia do produto em pacientes com câncer abdominal acompanhado de ascite –acúmulo de líquido no abdome.
Esses doentes têm de sofrer punções abdominais frequentes para alívio da dor causada pela pressão do líquido.
Em 7 dos 15 pacientes com essa complicação que receberam uma dose da droga, 7 ficaram livres da ascite pelo menos durante quatro meses.
Gangrena
A grangrena gasosa é produzida pela proliferação de certos germes anaeróbios (que só vegetam na ausência de oxigênio livre), o principal dos quais é o Clostridium perfringens. A pululação do micróbio em ferimentos sujos e contaminados, com escasso suprimento de oxigênio, acarreta a produção de uma alfa-toxina muito ativa que logo se espalha pelo organismo todo, podendo ser fatal.
Ela se infiltra nos tecidos próximos e neles provoca processo de necrose pútrida, que exala mau cheiro, e gases que tornam a pele crepitante, quando comprimida.
O tratamento consiste em limpar e arejar a ferida e injetar drogas anti-sépticas. Se a doença não cede é preciso recorrer à amputação das partes lesadas.
Contra a grangrena gasosa, que também ataca os animais, o Estabelecimento de Defesa Química e Biológica, do Reino Unido, sob a direção de Richard Titball, desenvolveu vacina sintética por meios biotecnológicos.
A vacina bloqueia os efeitos do germe e mostrou-se eficaz em testes em animais. A toxina tem uma parte ativa e outra inócua. Titball sintetizou um gene que preside a formação do fragmento inócuo (mas vacinante) e multiplicou esse fragmento dentro da bactéria coli.

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