São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Glauber narra história do filme

GLAUBER ROCHA

O sertanejo, o vaqueiro, chama-se Manuel. É moço ainda, embora sua aparência revele uma vida sacrificada. Sua mulher é Rosa. Vive com sua mãe numa pequena cabana das muitas que o Coronel cedeu aos camponeses para cultivar suas terras em função da partilha. Manuel sente a cada dia o peso da inutilidade de seu trabalho. Sonha em seguir o beato que prometera ao povo uma ilha onde os cavalos comem as flores e os meninos bebem leite nas águas do rio. Seus sonhos são de libertação e entendimento. E ele tem todo esse complexo estado de revolta na cabeça quando segue à cidade para vender os bois no mercado e recuperar o seu trabalho na partilha com o Coronel Moraes. Mas quatro bois estão mortos e o Coronel decide que os animais vivos são os seus e que não haverá partilha. Manuel procura defender-se e é repelido. Os dias de seu trabalho são apenas ignorados. Torna a insistir no seu direito e recebe de volta uma chicotada no rosto. Revida então furiosamente e, quase sem saber como, vê-se assassino de um dono de terras. Sua fuga para casa é desesperada e pouco tempo tem de avisar. Rosa e a velha mãe. Os jagunços seguem o seu rastro. O caminho será o de Monte Santo, junto ao beato e seu povo, mas antes que tal decisão seja tomada a casa é atacada. No campo uma cruz é levantada à beira da cova rasa da mãe do vaqueiro. Três jagunços foram abatidos.
Na pequena cidade de Monte Santo vive Sebastião, o beato. Um deus para muitos outros beatos que vivem à sua sombra, aguardando o dia em que o sol choverá ouro e o momento do êxodo para a ilha prometida. Manuel e Rosa ali chegam e a presença de Sebastião imediatamente se transformará na barreira entre o marido e a mulher. Manuel será o chefe dos jagunços do beato e Rosa a fêmea ferida em seu amor-próprio.
As constantes ameaças e ataques dos jagunços forçam, todavia, a aparição de Antônio das Mortes, o matador de cangaceiros. Sua interferência, segundo as autoridades, será o meio mais eficiente de extermínio dos beatos. Antônio das Mortes é conhecido entre os jagunços e cangaceiros de toda a região e até mesmo as autoridades sentem, ainda que dela façam uso, a sua presença forte e transformadora.
O primeiro encontro com Sebastião impede qualquer ato violento de Antônio das Mortes. O beato é um santo –ele crê– o seu povo nada cometeria de mal. Mas, às notícias de novos e constantes ataques dos jagunços, Antônio das Mortes certifica-se de sua nova missão: a eliminação dos beatos.

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