São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Crise do rublo marca fim do declínio russo

HAMISH McRAE

HAMISH MCRAE
DO "THE INDEPENDENT"

É possível que o mergulho (e a recuperação) do rublo nesta semana seja sinal do fim do declínio da economia russa.
Boris Fiodorov foi o ministro reformista das Finanças e vice-primeiro ministro da Rússia até janeiro deste ano. Hoje, é deputado e preside o subcomitê bancário e financeiro.
Na quinta-feira, ele falou na Escola de Economia de Londres sobre a confusão que a Rússia está criando em suas finanças públicas.
Segundo Fiodorov, a maioria dos chamados reformistas sabe muito pouco sobre o que deveria fazer, de modo que não houve uma ruptura definitiva com o passado.
No setor agrícola, por exemplo, a produtividade é muito baixa e eficiência sequer é mencionada. Na seguridade social, o sistema de benefícios para os desempregados se transformou num "cassino financeiro". As pessoas não entendem que a tarefa do governo numa economia de mercado é regulamentar, não gerir.
O problema mais grave, ainda segundo Fiodorov, é que ninguém pensa que os gastos do governo devem se subordinar ao orçamento. É difícil explicar a pessoas que acham que os governos podem fazer o que quiserem que "não se pode gastar como se se fosse rei".
Há fraudes, segundo Fiodorov, cômicas. Como o governo subsidia cereais, alguns os cultivam em vasos em suas casas. O governo paga metade da construção de um estábulo para mais de seis vacas. As pessoas os constroem, recebem o dinheiro e os convertem para outro uso. Para um governo que não consegue recolher boa parte dos impostos, o efeito é desastroso.
Quanto ao problema atual do rublo, Fiodorov acha que a simples demissão de alguns funcionários sugere que as verdadeiras lições não estão sendo aprendidas.
Mas Fiodorov vê sinais positivos. Um deles é a ânsia de empresas estrangeiras em investir na Rússia. Outro é o influxo de capitais de risco: mais ou menos US$ 2 bilhões neste ano. Os russos estão repatriando seus capitais, descobrindo que no exterior podem ganhar apenas 5% ao ano, mas na Rússia 5% ao mês.
"O país é muito rico", afirmou Fiodorov. "Nem todo mundo vai emigrar. Temos riquezas muito subavaliadas. Tudo terá que aumentar centenas de vezes".
A Escola de Economia de Londres faz avaliações mensais da economia russa. As rendas reais vêm aumentando desde fevereiro. Ainda atingem só 75% do nível de 1990, mas subiram 18% neste ano.
A produção industrial cai em ritmo mais lento e o setor de serviços está em expansão. Para a Escola de Economia, as evidências indicam que o PNB russo parou de cair.
O prazo de mais ou menos três anos de declínio desde o início do processo de reformas parece semelhante à experiência da República Tcheca, Hungria e Polônia.
É quase certo que esse declínio foi mais acentuado na Rússia. Mas não havia memória popular de um sistema de mercado, que ainda existia na Europa central.
É bom lembrar também que durante a primeira década do século, a Rússia era a economia que crescia mais rapidamente no mundo. Como observou Fiodorov, as condições para a criação de riqueza ainda existem e há muito patrimônio extremamente subavaliado.

Tradução de Clara Allain

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