São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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O próximo Congresso

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Os números de votos em branco e nulos para o Congresso, Estado por Estado, são escandalosos. Somados aos índices também altos de abstenções, indicam como estamos assentados em frágeis bases políticas –que têm de ser recompostas.
De um lado teremos, mais uma vez, um presidente forte pelos poderes constitucionais e pela legitimação da vitória no primeiro turno. Mas ainda sem maioria no Congresso.
Do outro, teremos um Congresso ainda desacreditado e já enfraquecido pela avalanche de rejeição. Mas com força suficiente para ajudar o país a ir para a frente ou emperrá-lo.
Nas democracias, o Congresso é o espaço das negociações. É nele que a sociedade, através dos partidos, exercita suas diferenças e seus conflitos.
Se deputados e senadores que acabam de ser eleitos repetirem os erros cometidos pelos que estão às vésperas de encerrar seus mandatos, viveremos momentos difíceis. Não acredito que terão mais crédito para queimar.
Que erros cometeram? Foram visceralmente fisiológicos (principalmente na defesa de privilégios). Foram inapetentes, preguiçosos, gazeteiros. Foram irresponsáveis quando frequentemente abriram mão de seus deveres e se omitiram.
As fraudes em vários Estados (e não apenas no Rio), a obsolescência do processo eleitoral, a falta de transparência no financiamento das campanhas, a predominância do poder econômico, a fragmentação dos partidos, o questionamento da representatividade proporcional das bancadas, a permanência de partidos de aluguel -essas mazelas (e tantas outras não mencionadas) têm de ser extirpadas se queremos uma democracia madura.
As reformas necessárias, principalmente a política, dependem do próximo Congresso. Mas como obtê-las se a maioria foi eleita graças à sobrevivência dessas mazelas? E se a primeira voz que vem do Senado é para pedir aumento salarial?

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