São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Que vergonha, presidente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Alguém precisa urgentemente dar uma importantíssima informação a Fernando Henrique Cardoso. Deveria comunicá-lo que ele é o futuro presidente do Brasil. Não estou brincando –basta ver a cena presenciada, sexta-feira à noite, pela Folha.
Ele foi festejar sua vitória numa casa de jazz em São Paulo com 300 convidados. Num telão, exibiram-se vídeos divulgados durante a campanha. Bebendo um Ballantine's (12 anos, claro, que ninguém é de ferro), o presidente eleito resolveu fazer piada com uma das peças publicitárias.
Na tela, aparece o locutor informando quais os produtos que ``podem" ser comprados com R$ 1,00. Sorrindo, ele comentou: ``Podiam". Ou seja, resolveu fazer humor com a desgraça alheia. Não mais dele: afinal, tudo que ele consumir, quando se tornar presidente, será pago pelo contribuinte.
Fernando Henrique estudou tanto sobre o poder, mas parece que aprendeu pouco. Um presidente deve manejar símbolos. Imagine que ele, num país atormentado pela crise social, angustiado com a volta dos preços em alta, resolve fazer uma festa no estilo do baronato mais alienado.
A polícia resolveu fechar o trânsito em torno da bar de jazz. Quem dá o direito a um indivíduo fechar as ruas para se divertir? Será que não existe um único assessor com um mínimo de bom senso para adverti-lo?
Aí está um dos males do poder: os governantes tendem a ouvir bajuladores, praga daninha dos palácios. O problema, aqui, é que Fernando Henrique Cardoso ainda nem tomou posse e já está fechando ruas para fazer festas. Ainda por cima, ironizando a subida dos preços.
PS- O porteiro do bar chama-se Balbino e não aderiu ao entusiasmo da comemoração. Até porque ele votou no Enéas. Por essas e outras, pessoas como Balbino acabam acreditando que Enéas é sério.

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