São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sobre anjos e políticos

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, um dia antes de recomeçar o horário eleitoral, Mário Covas apareceu na televisão para um ataque grosseiro ao adversário.
No registro do Jornal da Cultura, Covas ``sugeriu que Rossi se submeta a exames de sanidade mental".
Ao falar ele mesmo, o tucano foi de um sarcasmo que é característico de quem não sabe o que fazer.
Covas evita o assunto como pode. Não trata de Deus. Segue o que diz d. Paulo Evaristo Arns, sobre não juntar política e religião.
Mas o cardeal, ele próprio, está o tempo todo misturando política com religião, como mostrou na acusação a Rossi, esta semana.
E não tem jeito, que acabou o sonho do estado laico. O milênio está chegando, e com ele o assunto.
Por enquanto, ainda se tenta manter as aparências, como fazia o Globo Repórter, no final da semana.
O assunto foi a religião, o ressurgimento da religião, mas tratado por um viés distante e inofensivo, quase infantil: o dos anjos.
Ainda assim estavam lá os arautos afirmando que ``as pessoas voltam a precisar de anjos. É a grande revolução da raça humana."
Por revolução, entenda-se a crise do racionalismo, que é cantada em toda parte, mesmo na política.
E não só pelos evangélicos, hoje alvo de demonização que não tem argumento, apenas preconceito.
Também a teologia católica vai nesta direção, como fica claro no mais recente livro de Leonardo Boff e Frei Betto.
É bom lembrar dos católicos, quando se sabe que Mário Covas nunca escondeu sua confissão religiosa, em momentos passados.

Oposição
``A direção do PT paulista decide apoiar a candidatura de Mário Covas. Mas a votação foi apertada. 57% a favor, 43% contra."
Aos poucos vai ficando claro que o Partido dos Trabalhadores talvez não seja mais aquilo que se pensava.
A explicação seria uma confusa busca de identidade, agora que os antigos parceiros chegaram ao poder.
Como afirmava Aloizio Mercadante, ontem na Cultura, os petistas vão seguir na oposição, agora aos amigos.

Guerra civil
``Bósnia, guerra civil. Beirute, guerra civil. Rio de Janeiro..."
O Fantástico jogou pesado, ontem, nas imagens e na retórica, para sustentar o insustentável, na ação da polícia.
Tudo bem que os 13 ou 17 mortos desta semana sejam traficantes, mas nem uma ``guerra civil" justifica tais vingaças.

Texto Anterior: Fernandes serve à direita, diz Batista
Próximo Texto: PT decide apoiar a candidatura de Covas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.