São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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FHC espera 2º turno para definir ministério

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUDAPESTE

O presidente eleito Fernando Henrique Cardoso prefere aguardar o segundo turno das eleições estaduais antes de definir a composição do seu ministério.
``Como é que vai ficar o PMDB, por exemplo?", pergunta FHC, sentado em um banco de pedra às margens do rio Danúbio, na cidadezinha de Szentendre (``Santo André", cidade parecida com a paulista Embu), que visitou na manhã de ontem.
No caso específico do PMDB, o que FHC quer saber é o destino de Antônio Britto (RS), única grande liderança do partido que pode escapar da fogueira em que arderam os demais caciques peemedebistas.
Britto, como os demais peemedebistas gaúchos, pretende disputar o comando da legenda contra o quercismo, mas seu cacife depende do resultado eleitoral.
Até que ocorra o segundo turno, já deve estar definida a outra preliminar que FHC levanta antes de nomear seus ministros. ``É preciso saber primeiro quantos ministérios serão e o que cada ministério deve fazer para depois ver quem se adapta a esse perfil", afirma.

PT de fora
Uma coisa já é certa: o PT não está nos planos, ao menos como membro da coalizão governante.
O presidente eleito derreteu-se em elogios ao partido, que chegou a chamar de ``o mais organizado", mas, quanto a participar do governo, acha que ``não é bom para o PT, não é bom para nós e não é bom para o Brasil".
O que FHC tem como certa é a colaboração do PT na votação de pelo menos duas das reformas cruciais para o futuro governo (a tributária e a da Previdência).
``Nessas questões, o PT mais ajuda do que atrapalha", acha. Por isso, vai chamar o PT para conversar: ``Conversar não é aderir, nem pedir (cargos)".
Lista até os petistas com os quais crê que o diálogo será fácil: Luiz Inácio Lula da Silva (que considera um símbolo insubstituível no partido) e os deputados José Genoino (SP), Paulo Delgado (MG) e José Fortunati (RS), atual líder da bancada.
FHC pensa em indicar um líder do governo no Congresso, mas admite que um líder governista que não seja também líder de um partido tem mais dificuldades.
``Eu fui líder do governo sem ser líder de partido e, depois, líder de governo e de partido. A diferença é brutal", diz.
Na verdade, a grande liderança que FHC procura é para presidir a Câmara dos Deputados. Para ele, a Casa só funcionou de verdade quando era presidida por Ulysses Guimarães (PMDB), morto em 92.
Na etapa anterior da viagem (Russia), FHC já havia mencionado o deputado Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA) como o nome ideal para presidir a Câmara.
O presidente eleito não demonstra a menor pressa em voltar ao Brasil, tanto que adiou o regresso do dia 26 (uma das duas hipóteses iniciais) para o dia 28, com chegada a 29. É para fugir as pressões.
Idêntico motivo o levou a preferir o Palácio da Alvorada para instalar-se na transição, em vez de um edifício como o ``bolo de noiva", anexo do Itamaraty usado na transição de Sarney para Collor.
``Nesse tipo de edifício, as pessoas se organizam para espontaneamente participarem do governo", ironiza.

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