São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Sindicato pára 1 cidade por dia

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, explica, a seguir, suas estratégias para a greve e o reajuste salarial.
Folha - Como conseguir os 69,69% de reajuste se os empresários podem recorrer à Justiça, que já mostrou que vai manter os salários no limite da lei (o que significa 15,67% de aumento para os metalúrgicos)?
Paulinho - Vamos fazer greve a partir do dia 31 nos setores que não fizerem acordo até lá. Nos setores de autopeças, forjaria e parafusos, já rompemos negociação e haverá greve.
Folha - Mas, mesmo com greve, os empresários vão recorrer à Justiça?
Paulinho - Tem um grande cerco aos salários. Estamos fazendo um trabalho de boa vizinhança: falamos com juízes, com o ministro da Fazenda. Mostramos que aumento salarial não quebra o plano. O problema são as reformas estruturais. Nas greves, nós temos uma vantagem: as empresas estão trabalhando muito, sem ociosidade.
Folha - A greve será nos setores com menos ociosidade para dificultar o atendimento das encomendas para o Natal?
Paulinho - Basicamente é isso. Verificando aumento no emprego nos últimos meses e há o Natal. Então, a greve terá uma solução rápida para não comprometer as vendas. Temos o setor de autopeças que, parado, criará problema às montadoras, que não vão poder vender carro. Temos condição de parar um setor por 40 dias.
Folha - E como vai ser a estratégia da greve?
Paulinho -No sindicato, temos informações de cada setor, sabemos onde está produzindo. Temos delegado sindical nas empresas, mesmo clandestino. Nas autopeças, sabemos exatamente quais as fábricas cuja paralisação pode levar à falta de peças nas montadoras. Para começar a gente pararia uma cidade por dia. Estamos usando as experiências recentes: a greve longa na construção civil e a calma dos bancários.
Folha - Quais os setores em que é possível um acordo antes da greve?
Paulinho -No Simpi, é possível um acordo. E aí poderemos alegar que se um sindicato de micro empresa pode dar, porque os outros não podem? Essa divisão cada vez maior da Fiesp em diversos sindicatos dá trabalho nas negociações mas nos ajuda. Aproveitamos a briga interna deles. Tem também um racha da Abinee, a Eletros, que pode fechar acordo nos eletroeletrônicos.
Folha - E as montadoras?
Paulinho -Com elas, nós não negociamos desde o ano passado. Temos audiência de conciliação no TRT e é possível a gente fazer uma unidade dos metalúrgicos da Força e da CUT.
Folha – E como será a greve em São Paulo?
Paulinho -Acho que nós devemos começar pela zona sul, onde há uma concentração maior de empresas e poderemos fazer arrastão. Vamos de cidade em cidade. Nós não aceitamos de forma alguma só o IPC-r nem que sejam descontadas as antecipações, que no nosso setor foram de 10% a 44% desde a URV.

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