São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Artilharia em ação

CIDA SANTOS

Encerrada a primeira fase com a disputa de 24 partidas, o Campeonato Mundial comprova na quadra a tendência de o vôlei feminino apresentar um tipo de jogo mais próximo ao executado pelas seleções masculinas.
Exemplo mais claro disso é a seleção brasileira. A atacante Hilma bate do fundo da quadra com uma potência e velocidade raras no mundo do vôlei feminino.
O que tem mais impressionado no time de Bernardinho são as inúmeras opções de jogadas. É uma verdadeira artilharia em ação. Com quatro atletas atacando do fundo da quadra, a equipe está conseguindo colocar em prática uma versão feminina do estilo de jogo apresentado pela seleção masculina brasileira, que surpreendeu o mundo do vôlei e garantiu o título olímpico em 92.
Até mesmo na arte de levantar e armar as jogadas, as seleções masculina e feminina do Brasil se relacionam. Maurício e Fernanda têm personalidades que se assemelham: são ousados, rápidos e têm a segurança de quem não duvida do próprio talento. Não por acaso, os dois estão entre os melhores levantadores do mundo. E ultimamente formam até um belo casal.
Fora das quadras, o que mais impressionou nesta primeira semana de Mundial foi a situação vivida pela coreana Chang Yoon Hee. Ela foi tirada da quadra na última sexta-feira poucos instantes antes do início do primeiro jogo do seu time no torneio, contra a Alemanha. O argumento era que o resultado no seu teste de feminilidade ``não havia sido adequadamente confirmado".
Fico me perguntando: será que precisava esperar a atleta entrar em quadra, ser anunciada como titular para então informá-la que não poderia jogar? Os erros dos organizadores não pararam por aí. Divulgaram o resultado de um exame que ainda não tinha sido totalmente confirmado.
Ou seja, condenaram a atleta a não jogar, questionaram em público sua feminilidade sem certeza absoluta. Seria o mesmo que divulgar o resultado de um exame de doping e punir o atleta sem ter feito a contraprova. Chang foi então submetida a exames adicionais com ultrassonografia dos órgãos ginecológicos e taxas de hormônios. Depois disso, ela foi aprovada e pôde jogar no dia seguinte.
Não dá para deixar de levantar certas questões: quem vai pagar a humilhação sofrida pela jogadora? Como fica a situação da Coréia do Sul que não pôde contar com sua melhor atleta e perdeu na estréia?

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