São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Grupos se unem em defesa de `squatters'

DA "SPIN

Dia 1º de maio em Trafalgar Square, Londres. Policiais com ar tenso se preparam para enfrentar uma passeata de 15 a 20 mil manifestantes. Dá para sentir o cheiro característico: um misto de suor, maconha e cerveja. Um grupo de punks berra "Essa lei é um monte de merda". Os discursos que se seguem à passeata têm slogans combativos, mas a maioria dos presentes admite que não há como impedir a promulgação da nova lei.
A lei tem sérias implicações para os direitos civis do cidadão médio, porque reprime os protestos públicos. Seu alcance é tão amplo que pode ser aplicada a quase todas as manifestações.
Tudo isto porque, na imaginação do público mais amplo, as imagens de ``squatters" (invasores), ``ravers" (frequentadores das festas) e ``travelers" (viajantes) se fundem numa só: o }crusty, ou }cascão, um parasita malcheiroso e drogado que pode invadir a sua casa quando você sai de férias.
O que leva muitos }crusties a se tornarem }crusties é a falta de oportunidades para os jovens na Grã-Bretanha pós-Margaret Thatcher. Outros são idealistas que abandonaram suas famílias em busca de uma modo de vida não-restritivo e comunitário.
Graças a grupos como o Squash (``Squatters" em Defesa de Lares Seguros) e o Advance Party (Partido do Avanço), mais pessoas estão se conscientizando das implicações da nova lei. Jim Carey, do Squash, vem fazendo lobby junto a políticos e publica um }newsletter (boletim) chamado "Squall", sobre o tema. "O problema é que os `squatters' e `travelers' dão a impressão de rebeldia e inconformismo, e as pessoas têm medo disso."
Sara é um exemplo do público que Carey busca atingir. Ela mora num "squat" que não dá na vista –após arrumar a casa velha e grande. A sala está cheia de cadeiras e as lareiras foram reformadas.
Todos na casa trabalham. Um é professor, outra é bailarina, outro estuda medicina de ervas. O namorado de Sara, Ronnie, é pedreiro. "Faço `squatting' porque se eu mesmo não arrumar um sistema habitacional para mim, ninguém vai cuidar disso."
``Travelers"
Para os ``travelers", os festivais gratuitos sempre fizeram parte de seu senso de comunidade. No passado, comboios hippies viajavam até locais místicos. Foi em Stonehenge, em 1985, que os ``travelers" primeiro chamaram a atenção do público em geral, quando a polícia reprimiu com violência as comemorações do início do verão.
No final dos anos 80, o cenário ``traveler" se revitalizou ao aliar-se às ``raves", culminando no enorme festival de Castlemorton, em 1992, uma grande festa de seis dias, ao ar livre, que reuniu 30 mil pessoas.
As reclamações devido ao lixo, barulho e danos causados ao terreno colocaram ``ravers" e ``travelers" na defensiva, e as partes conflitantes se definiram: proprietários de terras contra os mal-lavados da sociedade.
Por isso, a polícia lançou a "Operação Foto", contra ``ravers" e ``travelers", registrando informações sobre pessoas e veículos em um banco de dados e assim impedindo uma nova ``rave" como a de Castlemorton. "Os viajantes vêm sendo perseguidos há anos", diz Sam, membro de um grupo seminômade que ficou conhecido nos anos 80. "Se uma pessoa opta por viver ao ar livre, no frio, e cortar lenha todo dia, por que deve ser obrigada a morar num apê, ter telefone e pagar contas? Ela não quer isso –só quer que a deixem em paz."
"Quando se discute os `travelers' e a nova lei, todo mundo parece esquecer que o movimento hippie existe há quase 30 anos. Em alguns casos, já são três gerações de viajantes. A história das festas não é tão importante. O mais importante é que as pessoas precisam viver como querem", diz Sam.

Tradução de Clara Allain.

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