São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Gorjeta em dólar iguala salário de cubanos

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A HAVANA

A liberação, em agosto, da posse de dólares pelos cubanos transformou o peso em uma espécie de moeda de subsistência.
Enquanto a vida oficial é levada com dificuldade em pesos, a paralela cresce em dólares.
Com o peso, o cubano paga despesas com transporte e moradia e parte dos seus gastos com alimentação e vestuário.
A redução da quantidade do que pode ser comprado com a ``libreta" –carnê que garante acesso a produtos a preços subsidiados– aumentou a procura pelos antigos mercados paralelos (agora liberados) e pelos artigos que só podem ser adquiridos em dólar.
A situação beneficiou os que trabalham no atendimento a turistas: garçons, guias, arrumadeiras, carregadores de malas têm acesso a gorjetas em dólar que, pelo câmbio paralelo, podem equivaler a quase um salário mensal em pesos.
Nas ruas de Havana, um dólar vale em torno de 60 pesos (há nove anos, valia sete ou oito pesos; há dois meses, chegou ao pico de 140 pesos). O salário médio é de 200 pesos.
Nas ruas de Havana Velha –a parte histórica da cidade–, crianças e até adultos pedem dinheiro.
Outra forma de obter dólares é com a prostituição. Um ``programa" pode custar até US$ 100 e o turista sequer precisa ir até a rua para arrumar companhia. As moças costumam circular pelos bares dos hotéis.
O envio de dinheiro por parentes que estão nos Estados Unidos ainda é a principal fonte de arrecadação de dólares pelos cubanos. Isto, apesar da decisão do presidente norte-americano, Bill Clinton, de impedir o envio desse dinheiro por meios legais.
O fim do acesso ao petróleo soviético –que era adquirido a preços subsidiados– modificou a rotina do país, que depende do produto para a geração de energia: uma vez por semana um bairro fica sem luz. É o ``apagón".
Nas ruas, bicicletas doadas pela China substituem a maior parte dos ônibus. Nem mesmo a tradicional sorveteria ``Coppelia" foi poupada –o ``apagón" impede que ela funcione todos os dias.

América Latina
Membros da Cúpula para o Diálogo Inter-Americano afirmaram semana passada que a reunião de cúpula de dezembro, em Miami, deve tratar como prioridade as garantias da democracia.
Eles fizeram, entretanto, reservas ao tratamento que vem sendo atualmente dado pelos EUA à questão cubana.

O jornalista FERNANDO MOLICA viajou a convite da Cubatur.

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