São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Lá fora, sinal amarelo

O dólar atingiu na semana passada os níveis mais baixos frente ao iene e ao marco alemão em todo o pós-guerra. As taxas de juros dos títulos do Tesouro americano de 30 anos, indicadores da confiança do mercado, subiram para 8%. Para alguns analistas, os EUA podem estar chegando ao fim de uma notável recuperação econômica iniciada pouco antes de Bill Clinton chegar ao poder. Virada que coincide com um primeiro teste dos democratas nas urnas desde a sua eleição.
Desde fevereiro o Fed (banco central dos EUA) tem elevado sucessivamente as taxas de juros tentando frear o que aparece como expansão excessiva. As tentativas têm sido frustradas a cada rodada de indicadores de preços, de produção e de consumo. Na semana passada os indicadores da construção civil superaram as expectativas, jogando os juros para cima e o dólar para baixo. São sinais de que os mercados temem mais inflação, apesar da alta dos juros nos últimos meses.
Alguns observadores alertam para a duração desse processo expansivo. Ele já estaria se prolongando mais que a média dos ciclos anteriores. Na história da economia americana no pós-guerra, apenas três dos oito movimentos de expansão duraram mais que o atual. Ou seja, ele se parece cada vez mais como algo suficientemente raro para ser cada vez menos crível. E, como em outros momentos, a reversão pode ocorrer mais rápida e violentamente do que se espera.
Para a economia brasileira esses sinais são preocupantes. Se se tratasse apenas de desvalorização do dólar nos mercados internacionais, a situação poderia trazer algumas vantagens (pois os produtos brasileiros preservariam competitividade em dólar, apesar do real forte). Mas, se a expansão norte-americana for revertida e a alta dos juros internacionais frear o início da recuperação em outros países, o efeito ``câmbio favorável" poderá ser parcial ou integralmente compensado pelo efeito ``renda declinante". Teríamos menos mercados para os quais exportar e, com juros mais altos, mais dívida para pagar.
É um sinal amarelo para a já inquietante estabilização brasileira.

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