São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
`S.F.W.' satiriza cultura pop americana
RICARDO CALIL
Tonya Harding, patinadora acusada de mandar agredir uma colega, e John Bobbit, que teve seu pênis cortado por sua mulher, vão estrelar filmes de qualidade duvidosa. Os conflitos no Haiti e em Cuba parecem não despertar tal interesse em Hollywood. O cinema político voltou, mas mudou sua vítima preferencial –do repressão para a TV. ``Assassinos por Natureza", que abriu a Mostra, já demonstrava essa predileção. Hoje, a Mostra exibe a comédia ``S.F.W.", de Jefery Levy, que volta a atacar o processo que transforma sociopatas ou um jovem da geração MTV (no caso deste filme) em heróis da televisão. ``S.F.W." é a abreviação da expressão ``so fucking what", frase preferida do protagonista Cliff Spab (Stephen Dorff, de ``Cinco Rapazes de Liverpool"). Durante 36 dias, ele, sua namorada, seu melhor amigo e outros são tomados como reféns em uma loja de conveniência californiana. Os terroristas filmam as várias agressões aos reféns e exigem que as imagens sejam levadas ao ar. Quando o sequestro termina, Spab surge como novo herói nacional, por causa de sua atitude niilista diante da tragédia. ``So fucking what" (``e daí", em tradução suave) vira a expressão máxima de sua geração. Para Levy, que chega amanhã a São Paulo, ``a intenção é satirizar a forma como a cultura pop norte-americana transforma a violência em um produto vendável." E, para mostrar isso, o filme usa intencionalmente uma linguagem próxima ao videoclipe, misturando diversos formatos, como ocorre em ``Assassinos por Natureza". Levy reconhece pontos semelhantes com o filme de Oliver Stone. ``Os dois usam uma linguagem sensacionalista, mas `S.F.W.' não vai tão longe na recriação de uma maneira de filmar." Embora esteja escrevendo e produzindo seu próximo filme com a mesma equipe de ``Assassinos por Natureza", o diretor prefere ter seu filme comparado a ``Laranja Mecânica". ``Assim como Stanley Kubrick, tento falar sobre política, cultura e mídia dentro de uma estrutura circular de narração." Na visão do diretor, ``S.F.W.", seu terceiro filme, é um híbrido entre um filme de rock'n'roll para adolescentes e um filme político. Para sustentar seu discurso, o cineasta recorre ao filósofo francês Michel Foucault. ``Para Foucault, uma das formas de a sociedade controlar as pessoas é fazê-las transparentes, tornar públicas as coisas mais íntimas. Na TV norte-americana, as pessoas falam sobre incesto, estupros." Levy quer investigar as causas dessa overdose de violência. ``Veja o caso de O.J. Simpson. Ele era um cara legal em toda sua vida, mas em um momento enlouqueceu. Isso pode acontecer a qualquer um, em diferentes graus. Todos os dias eu me pergunto por que essa violência." Filme: S.F.W. Direção: Jefery Levy Elenco: Stephen Dorff, Reese Witherspoon Produção: EUA, 1994 Onde: Masp, às 21h, falado em inglês, sem legendas Texto Anterior: "`Fin-de-Siécle" traz dez jovens artistas Próximo Texto: "Cintilação" expõe crise do tradicionalismo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |