São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Segundo turno vira plebiscito no Maranhão

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS

O adversário de Roseana Sarney (PFL) ao governo do Maranhão, Epitácio Cafeteira (PPR), conseguiu transformar as eleições no Estado em um plebiscito sobre a permanência dos Sarney como o grupo político mais influente do Estado.
Para tanto, conseguiu até mesmo cerrar fileiras, embora não oficialmente, com o PT. A direção estadual do partido proibiu os militantes de fazer campanha para o candidato do PPR, mas recomendou o voto anti-Sarney.
Essa estratégia tornou imprevisível o resultado do segundo turno para governador no Maranhão.
Apesar do apoio de 130 prefeitos (de um total de 136), de 13 dos 18 deputados federais eleitos e de 33 dos 42 deputados estaduais, a candidata Roseana Sarney (PFL) perdeu o favoritismo que possuía no primeiro turno.
O slogan de Cafeteira é a palavra ``liberdade".
Nos últimos 25 anos, todos os governadores eleitos no Maranhão foram apoiados por José Sarney. O slogan de Cafeteira é a palavra "liberdade".
Há uma semana, ele costurou acordo com Jackson Lago (PDT), que disputou o primeiro turno em coligação com o PSB e PT. Juntos, os dois candidatos tiveram 44 mil votos a mais do que Roseana.
Oposições
Esta união das oposições em torno de Cafeteira e contra o sarneyzismo é, no mínimo, curiosa: em 1986, Cafeteira não só se elegeu governador como candidato do então presidente Sarney como o Maranhão foi o Estado mais beneficiado com repasse de verbas federais.
Os dois romperam em 1990 porque Cafeteira não abriu mão de concorrer ao Senado, como queria Sarney, obrigando o ex-presidente a disputar a vaga pelo Amapá.
Roseana admite que Cafeteira lidera a competição neste momento, mas diz que reverterá o quadro, porque seus aliados –quase a totalidade das lideranças políticas do interior– partiram para o corpo-a-corpo. Afirma também que seus aliados se deixaram contaminar pelo clima de já-ganhou do primeiro turno e acabaram se acomodando. Ela acabou perdendo para Cafeteira em 18 dos 136 municípios, incluindo a capital. Os 13 deputados federais eleitos que a apóiam tiveram 220 mil votos a mais do que ela.
A segunda explicação encontrada por Roseana é de que o eleitorado do interior, que tem 40% de analfabetos, se confundiu na hora de votar.
Cafeteira ironiza a explicação: ``O analfabeto não conseguiu achar o nome da candidata que era a primeira na cédula, mas achou o de Cafeteira, que era o terceiro".
Mudanças
Para reverter o crescimento da candidatura Cafeteira, a candidata contratou Roberto Viana, ex-coordenador da campanha de Tasso Jereissati (governador eleito do Ceará pelo PSDB) para dirigir sua equipe no segundo turno.
Ele mudou desde o slogan e a logomarca até a estratégia de atuação. O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) está empenhando seu prestígio político na eleição da filha. Na semana passada, começou a percorrer o interior, onde está 85% do eleitorado, para falar com lideranças locais.
O ex-presidente enfrentou os 40 graus do sertão maranhense para visitar três cidades do vale do Itapicuru (regiao leste), onde Roseana foi derrotada por Cafeteira: Caxias, Codó e Timbiras.
A reportagem da Folha visitou os três municípios depois da passagem de Sarney. Timbiras (a 250 km de São Luís) tem apenas 11,6 mil eleitores e quatro caciques políticos inimigos entre si.
Todos apoiaram Roseana no primeiro turno, mas ela teve 664 votos a menos do que Cafeteira.
Em Codó –55,9 mil eleitores, a 224 km de São Luís– o fenômeno se repetiu. Os caciques locais não conseguiram transferir seus votos para Roseana.
O prefeito elegeu o filho deputado estadual com 15 mil votos na cidade, enquanto Roseana teve pouco mais de 8.000 e perdeu para Cafeteira por 833 votos.
Com as visita, Sarney conseguiu selar um pacto entre os grupos rivais para que subam juntos no palanque quando houver comício de Roseana.
Em Caxias (terceiro colégio eleitoral do Estado), onde Roseana teve 500 votos a menos do que Cafeteira, a negociação com as facções rivais é mais complicada para a família Sarney.
O prefeito, Paulo Marinho (PSC), presidente da Associação dos Municípios do Maranhão, é inimigo do senador Alexandre Costa (PFL), um dos coordenadores da campanha, mas amigo pessoal da família Sarney. Costa lidera um movimento para afastar o prefeito do cargo.

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