São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Indústria quer cenário mais claro para investir

Empresas recorrem a turnos para gerar oferta em 94

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de trabalhar em níveis próximos a sua capacidade máxima, a indústria brasileira evita investir no aumento de produção.
A saída, no momento, é investir em novos turnos de trabalho. Ou seja, para tentar atender ao crescimento de demanda neste final de ano, o setor parte para segundos e terceiros turnos.
``Estamos no limite e a tendência é criar novos turnos de trabalho até o final do ano", afirma Lourival Kiçula, diretor da Eletros, associação que reúne empresas eletroeletrônicas.
Fenômeno semelhante acontece na área têxtil. ``O setor está viabilizando o terceiro turno para atender os pedidos de final de ano, que não cessaram apesar do governo ter restringido o crédito", diz Luiz Américo Medeiros, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
Fernando Marotta, sócio-diretor da Arthur Andersen, empresa de consultoria, afirma que os empresários já ``acenderam a luz vermelha", mas que a saída ainda não passa pelo aumento efetivo da capacidade de produção.
Investimentos para a construção de novas fábricas ou ampliação das já existentes, apesar de já se mostrarem necessários, vão ficar para depois da posse do próximo governo.
``Investimento pressupõe a continuidade das regras do jogo, o que leva a indústria a esperar a política industrial do governo Fernando Henrique", diz Mailson da Nódrega, ex-ministro da Fazenda.
Enquanto isso, os níveis de produção e de venda atingem patamares próximos ao do Plano Cruzado. Em outubro de 1986, a capacidade instalada da indústria chegou a 83,60%, segundo levantamento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em setembro passado, a indústria nacional trabalhava com 78,40% de sua capacidade de produção e a previsão é de que outubro beire os 83% do Cruzado, apesar das recentes medidas de restrição ao crédito e ao consumo.
Entre os setores que lideram este aumento de produção estão o automobilístico, o eletroeletrônico, e o de papel e celulose. Nenhum deles reviu a sua previsão de aumento de produção ou de vendas para este final de ano.
``Vamos vender 50% mais em novembro e dezembro em comparação com o mesmo período do ano passado", diz Kiçula, da Eletros. Segundo ele, a ``vantagem" das medidas de contenção ao crédito é que as encomendas diminuíram, desafogando a indústria.
``Estamos em plena capacidade na produção", afirma Boris Tabacof, da Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose.
Isso significa que em 94 serão fabricadas 5,5 milhões de toneladas de papel e a mesma quantidade de celulose. No final da década de 80, este total não chegava a 4 milhões de toneladas e 3,5 milhões de toneladas.
O maior problema para ampliar a produção é a falta de suprimentos.``É difícil crescer mais porque teremos problema de algumas matérias-primas que não conseguem aumentar sua produção na mesma proporção", diz Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos.

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