São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Raça, genes e QI

CHARLES MURRAY ;RICHARD J. HERNNSTEIN
DA REDAÇÃO

Leia a seguir, trechos do resumo de ``The Bell Curve" feito com exclusividade pelos autores do livro, Charles Murray e Richard J. Herrnstein, para a revista norte-americana ``The New Republic", de 31 de outubro.
CHARLES MURRAY
RICHARD J. HERNNSTEIN
Especial para ``The New Republic"
Poderíamos começar por uma pergunta comumente feita nos EUA hoje: será que os asiáticos têm QIs superiores aos dos brancos? A resposta é que provavelmente sim, se entendermos por "asiáticos" os japoneses e chineses (e possivelmente também os coreanos), que passaremos a descrever como asiáticos orientais. Ainda não está claro o quanto são superiores.
Os testes mais confiáveis feitos até agora foram testes de QI idênticos feitos com populações que são comparáveis, em todos os aspectos menos o da raça. Num dos testes, amostras de estudantes americanos, britânicos e japoneses de 13 a 15 anos de idade receberam um teste de raciocínio abstrato e relações espaciais. As amostras americanas e britânicas tiveram totais que ficavam a um ponto da média padronizada de 100, tanto na parte abstrata quanto na de relações espaciais. Os japoneses fizeram 104,5 pontos no teste de raciocínio abstrato e 114 no teste de relações espaciais –uma diferença grande, comparável ao intervalo encontrado por outro importante cientista que pesquisa asiáticos nos EUA.
Num segundo conjunto de estudos, crianças de nove anos no Japão, em Hong Kong e na Grã-Bretanha, tiradas de populações comparáveis em termos socioeconômicos, fizeram o teste Ravens de Matrizes Progressivas Padronizadas. As crianças de Hong Kong atingiram uma média de 113 pontos, as japonesas 110 e as britânicas 100.
Nem todos aceitam a existência da diferença entre asiáticos orientais e brancos. Em outro conjunto de estudos, uma bateria de testes mentais foi feita com alunos de escolas primárias no Japão, em Taiwan e em Minneapolis, (EUA). A diferença chave entre este estudo e os dois anteriores foi que as crianças foram cuidadosamente escolhidas para serem equiparáveis, no tocante a muitas variáveis socioeconômicas e demográficas. Não foi encontrada nenhuma diferença significativa em seu QI global, e os autores concluíram que "esse estudo não fundamenta o argumento de que existem diferenças entre o funcionamento cognitivo geral de crianças chinesas, japonesas e americanas."
Como ficamos, então? As partes envolvidas na discussão se mostram confiantes e afirmam enfaticamente que existe, ou que não existe, uma diferença de QI entre asiáticos orientais e brancos. Em nossa avaliação, o conjunto das evidências aponta que a média global asiática oriental é superior à média branca. Os asiáticos orientais têm maior vantagem num tipo específico de inteligência não-verbal.
A questão se torna mais tensa, porém, quando se trata de responder à seguinte pergunta: será que afro-americanos têm uma pontuação diferente dos brancos nos testes padronizados de habilidade cognitiva? Se as amostras foram escolhidas para serem representativas da população norte-americana, a resposta tem sido "sim" em todos os testes conhecidos de habilidade cognitiva que satisfazem os padrões psicométricos básicos. A resposta também é "sim" em quase todos os estudos em que amostras negras e brancas são equiparadas em relação a algumas características específicas –por exemplo menores delinquentes ou estudantes universitários–, mas existem exceções.
Quão grande é a diferença entre negros e brancos? A resposta usual é o que os estatísticos chamam de um desvio padrão. Na discussão de testes de QI, por exemplo, a média negra é normalmente dada como sendo 85, a média branca como 100 e o desvio-padrão como 15 pontos. Mas as diferenças observadas em qualquer estudo dado raramente seguem exatamente um desvio padrão. Em 156 estudos feitos nos EUA neste século que reportaram as médias de QI de uma amostra negra e de uma amostra branca, e que satisfazem as exigências básicas de terem condições de serem interpretados, a diferença média entre negros é brancos é 1,1 desvio-padrão, ou seja cerca de 16 pontos de QI.
A adoção de critérios mais rígidos de seleção não reduz o intervalo. Por exemplo, com testes feitos fora do Sul do país apenas após 1960, quando as pessoas mostravam crescente sensibilidade para questões raciais, o número de estudos se reduz para 24, mas a diferença média ainda é de 1,1 desvio padrão. Em 1980 a Sondagem Longitudinal Nacional de Jovens (National Longitudinal Survey of Youth, ou NSLY) administrou um teste de QI a uma amostra nacional de longe a maior e mais cuidadosamente selecionada até então (6.502 brancos e 3.022 negros), e verificou uma diferença de 1,2 desvio padrão.
As evidências fornecidas pelo SAT, o ACT e a Avaliação Nacional de Progresso Educacional nos dá motivos para acreditar que a diferença de QIs entre negros e brancos se reduziu em cerca de três pontos de QI, nos últimos 20 anos. Quase todo o progresso se deu na extremidade inferior, mas de alguns anos para cá os progressos estancaram e as evidências mais diretas obtidas dos testes de QI da próxima geração do NSLY apontam um intervalo crescente entre brancos e negros, e não decrescente.
Diferenças sociais
Isto ainda deixa outra pergunta óbvia no ar: as diferenças entre as pontuações globais obtidas nos testes por brancos e negros são atribuíveis a diferenças de status socioeconômico? Esta pergunta comporta duas respostas diferentes, dependendo de como ela é entendida, e a confusão resultante é grande. Existem duas perguntas essenciais e dois raciocínios associados a elas.
Primeira versão: se se exclui os efeitos da classe socioeconômica, o que acontece com a magnitude da diferença entre negros e brancos? Os negros pertencem, de modo desproporcional, às classes socioeconômicas inferiores, e sabe-se que classe socioeconômica possui relação com QI. Portanto, sugerem muitas pessoas, parte do que parece ser uma diferença étnica nos resultados de testes de QI, é na realidade uma diferença socioeconômica.
A resposta a esta versão da pergunta é que o tamanho do intervalo se reduz quando o status socioeconômico é excluído estatisticamente. A NLSY dá um resultado típico de tais análises. Nela, a diferença entre negros e brancos é 1,2. Numa equação regressiva na qual são incluídas tanto raça quanto classe socioeconômica, a diferença entre brancos e negros cai para menos de 0,8 desvio padrão. O status socioeconômico explica 37% da diferença original entre negros e brancos. Esta relação condiz com os resultados obtidos por muitos outros estudos.
A dificuldade aparece na interpretação do que significa o "controle de status socioeconômico". A equiparação dos grupos costuma ser justificada com base na afirmação de que as pontuações obtidas pelas pessoas são fruto, até certo ponto, de seu status socioeconômico, de modo que se quisermos ver a diferença "real" ou "autêntica" entre elas, é preciso excluir a contribuição do status. O problema é que o status socioeconômico é também resultado da inteligência, pois pessoas de habilidades cognitivas altas e baixas se deslocam para lugares altos ou baixos da estrutura de classes. A razão pela qual seus pais têm status socioeconômico alto ou baixo é em parte função de sua inteligência, e sua inteligência também afeta o QI de seus filhos, tanto por via genética quanto do ambiente.
Devido a estas relações, é certo que o "controle de status socioeconômico" em comparações raciais reduz as diferenças de QI, do mesmo modo que escolher amostras .

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