São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Fontes do livro são neonazistas

JEFFREY ROSEN
CHARLES LANE

JEFFREY ROSEN; CHARLES LANE
DA "THE NEW REPUBLIC"

A revista "The New Republic" não inclui notas de rodapé em seus artigos, o que é uma pena em se tratando de Murray e Herrnstein. Pois ao examinar as citações constantes do capítulo 13 de "The Bell Curve", os leitores poderão reconhecer o projeto pelo que é: uma assustadora síntese das conclusões de excêntricos teóricos do racismo e defensores da eugenia. Murray e Herrnstein não podem ser responsabilizados pelas opiniões de todos esses acadêmicos. Seria útil, porém, examinar as fontes do livro.
Murray e Herrnstein se baseiam, em grande medida, em dados citados num artigo escrito em 1991 por Richard Lynn, da Universidade de Ulster, publicado no periódico "Mankind Quarterly", que defende a eugenia. Lynn e Hans Wilhelm Jürgens, um antropólogo alemão que defendeu a esterilização de elementos "anti-sociais hereditários", foram editores adjuntos do "Mankind Quarterly".
O artigo de Lynn sobre "Inteligência e Raça: Uma Perspectiva Global" conclui que "as pessoas de raça mongol têm os QIs mais altos e os tempos de reação menores", seguidos pelos caucasóides e pelos negróides. Depois de examinar "1.500 das mais importantes descobertas tecnológicas e científicas já feitas", Lynn conclui: "Quem pode duvidar que caucasóides e mongolóides são as duas únicas raças que fizeram qualquer contribuição significativa à civilização?"
Em "The Bell Curve", Murray e Herrnstein também introduzem os leitores à obra do psicólogo canadense J. Phillipe Rushton. Rushton argumenta que os asiáticos são mais inteligentes do que os caucasianos, têm pênis menores, menos impulso sexual, são menos férteis, trabalham mais e são mais facilmente socializáveis, e que o mesmo pode ser dito dos caucasianos com relação aos negros.
Rushton foi repreendido pela University of Western Ohio por pagar 150 pessoas num shopping center local –um terço negros, um terço brancos e um terço asiáticos– para responderem a perguntas como: "A que distância você consegue ejacular?" e "Qual o tamanho de seu pênis?"
Entrevistado no último número da "Rolling Stone", Rushton resume suas pesquisas: "Mesmo que se exclua coisas como sexualidade ou capacidade atlética –para não reforçar estereótipos–, é simples: ou se tem mais cérebro, ou mais pênis. Não se pode ter tudo". E num artigo publicado em 1986 na "Politics and Life Sciences", Rushton sugeriu que o desempenho militar da Alemanha nazista estava ligado à pureza de seu "pool genético", e preveniu que idéias igualitárias colocam em risco "a civilização norte-européia".
O conceito racista que Murray tem de negros e brancos americanos, constituindo "clãs" cultural e geneticamente distintos, soa especialmente implausível numa época em que o saudável aumento dos casamentos inter-étnicos promete solapar o conceito de classificações raciais coerentes. Examinando suas notas de rodapé, não nos surpreendemos em constatar a pobreza das bases sobre as quais ele colocou em risco sua reputação.
Tradução de Clara Allain

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