São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Como voltar aos 17 sem querer ouvir R.E.M.

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Lembro exatamente da primeira vez que ouvi o R.E.M. Foi numa tarde de domingo, em 83. Gravei do programa do Kid Vinil na FM, como fazia toda semana. Entre lançamentos de Belle Stars, Phil Oakey, The Passions e quetais, estava lá ``Radio Free Europe".
Acho que o que impressionou mesmo foi do nome da música. ``Rádio Free Europe" parecia alguma coisa ousada, aventureira, ``vamos às barricadas companheiros".
Eu não sabia que Radio Free Europe era uma emissora do governo norte-americano, que fazia propaganda anticomunista. Eu tinha 17 anos, o que não desculpa ignorância, mas às vezes explica.
É raro ter um flashback tão claro como tive ouvindo de novo ``Radio Free Europe". Lembrei exatamente das condições da gravação.
Tinha recém mudado para São Paulo e recém abandonado a faculdade. Estava sem rumo, sem grana, sem namorada. Livre como um táxi.
Comecei essa trip pelas praias ensolaradas da nostalgia porque ouvi o novo disco do REM, ``Monster", e é a primeira coisa deles que eu realmente admirei desde ``Radio Free Europe".
Tudo que veio entre uma coisa e outra foi descartada por motivos conceituais. Para mim, REM sempre foi primo dos Smiths. Mais americana, mais jeca, mais universitária –mas basicamente, os Smiths são o REM, que são a Legião Urbana, Renato Russo é Michael Stipe, que é Morrissey.
Não sou fã de nenhum dos três. Não gosto da adoração que os fãs dessas bandas têm por elas. Não é questão de ser bom ou ruim. É questão de estômago. Tenho nojo de afetação.
Fiz questão de dar um belo de um malho no REM quando saiu ``Out Of Time", porque ``Losing My Religion" é o ápice da conexão Smiths-REM.
OK, tem outras músicas no disco e tanto ``Radio Song" quanto ``Shiny Happy People" contam pontos no quesito ``pop pegajoso". Não foi o suficiente.
O disco seguinte eu nem ouvi. Como não ouvi os mais recentes do Prince, C+C Music Factory, Yes, Beloved, Pretenders, Guns N'Roses etc. Já sei o que penso deles e a vida é curta.
Mas ``Monster" muda tudo. O disco é bom demais. Acho que ``Monster" é a primeira vez que consigo apreciar o trabalho de alguém a despeito da opinião que tenho sobre os autores. Não sei se vai durar até eu ver a cara de sonso do Michael Stipe nos clips... veremos.

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