São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994 |
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Larrocha e Labèque resgatam encantamento de Manuel de Falla
ARTHUR NESTROVSKI Diz um clichê da musicologia que a melhor música espanhola foi escrita pelos franceses: Debussy, Ravel, Chabrier. Mas pelo menos alguma coisa da melhor música espanhola foi escrita por um espanhol, que retribuiu o cumprimento escrevendo à maneira francesa.Início, meio e fim da música da Espanha neste século, Manuel de Falla (1876-1946) habita este espaço híbrido que é a Espanha da imaginação, onde os gestos dos ``cantadores" e os ``rasgucados" flamencos se combinam com acordes de nona e sequências de quartas paralelas. É um espanhol inventando a Espanha por vias da música francesa. Em pleno vigor aos 71 anos de idade, Alicia de Larrocha é a intérprete predestinada da música para piano de Manuel de Falla. Das ensolaradas ``Pièces Espagnoles" (onde até o título é francês!) à virtuosística ``Fantasia Bactica"(encomendada por Arthur Rubisntein, em 1919), ela é uma intérprete inteiramente à vontade e sem maneirismos desta música que tanto inspira os maneirismos. Larrocha toca simples: a primeira impressão que se tem é que ela toca até um pouco sem lustro, toca como você e eu tocaríamos se tivéssemos mais dedos e muito mais perseverança. Mas esta simplicidade não tem nada de simplório; é uma verdadeira sabedoria do piano. Só a sua gravação da primeira dança de ``La Vida Breve" já vale o disco: espanholada sem espanholice, serve de emblema para o estilo natural de uma das maiores pianistas vivas. Ninguém vai ouvir, de uma sentada, oito peças espanholas para o piano. Mas cada uma delas merece muitas reaudições. O que não merece mais que uma visita rápida são as peças para piano de Xavier Montsalvatge (1912), na segunda metade do disco. Falla sendo o Debussy da música espanhola, Montsalvatge quer ser seu Poulenc. Mas onde Poulenc corteja a frivolidade e a ``naiveté", Montsalvatge corteja a tolice. É uma música bem comportada, uma música boazinha –composições de um professor meio bobo. Estas gravações da música de Montsalvatge cumprem, ao menos, a função de satisfazer nosssos impulsos de turismo musical. Quem quiser voltar para trás tem também uma ótima opção no novo CD das irmãs Labèque. ``Espa¤a!" (Philipps), que além de Falla inclui uma versão arrebatadora da ``Suite Espanhola nº 1", de Albéniz. Esta é a Espanha dos estrangeiros, a ``Espanã!", entre aspas e com um ponto de exclamação- exagerada e cheia de cores e sombras, sensual, violenta. Não tem a fineza e a dignidade musical de Larrocha; mas nem sempre a fineza é o melhor cardápio do espírito. As irmãs Labèque passeiam por esta ``Espa¤a!" com energia e bom humor, e um grande senso de ironia. A ``Espa¤a!" não é a Espanha, mas, hoje como sempre, um dos países irresistíveis da música. Disco: Serenata Andaluza Artista: Alicia de Larrocha Lançamento: RCA Victor Disco: Espa¤a! Artista: Katia e Marielle Labèque Lançamento: Philips Quanto: R$ 20 (o CD, em média) Texto Anterior: Diretora defende cinema livre Próximo Texto: ``Futebol" da diretora Bia Lessa de futebol não apresenta nada Índice |
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