São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Diretora defende cinema livre

BERNARDO CARVALHO

Teresa Villaverde, 28, representa uma nova geração de cineastas portugueses. A diretora está em São Paulo para apresentar seu segundo filme, ``Três Irmãos", com Maria de Medeiros, na mostra. É a história de três irmãos para quem as portas do mundo estão fechadas. Seu primeiro filme, ``A Idade Maior" (1990), se passava nos anos 70 e era filmado do ponto de vista de uma criança.

Folha - Você foi atriz antes de ser diretora.
Teresa Villaverde - Nunca quis ser atriz. Quando trabalhei como em ``À Flor do Mar" cheguei a dizer ao diretor, João César Monteiro, que não me contratasse, porque eu era péssima. Mas ele insistiu. Apesar de ter sido confirmado que eu era péssima, para mim foi uma experiência da qual não estou nada arrependida. Isso me ajudou muito como diretora.
Folha - Você faz parte de uma nova geração de cineastas em Portugal. Você se sente próxima esteticamente de algum diretor, como João Botelho, Manoel de Oliveira ou João César Monteiro?
Teresa - Tenho imenso respeito e admiração por esses cineastas, mas sinceramente não sei se o cinema que faço é parecido ou não. Entre si eles também são muito diferentes. Há algo que nos une a todos, o fato de, em Portugal, o cinema ainda ser –porque está mudando– completamente livre, onde não há imposições externas. Essa particularidade marca uma grande diferença.
Folha - Por que essa situação está mudando?
Teresa - Em primeiro lugar, porque a política geral está mudando e Portugal está atravessando uma crise enorme. As pessoas que dirigem a cultura e o cinema no país querem acabar com essa liberdade. Querem impor normas de forma a que não se possa mais fazer filmes com o dinheiro do Estado que passem uma má imagem do país no estrangeiro.
O cinema que quero fazer tem que ser livre e sincero e vir de dentro das pessoas, da vontade delas de fazerem filmes.
Folha - Você sente uma identificação particular com algum cineasta estrangeiro?
Teresa - Agora que já fiz dois filmes, sinto que há uma grande influência do cinema mudo. O realizador que talvez esteja mais em minha cabeça seja o Murnau. As pessoas que tinham que fazer tudo pelos olhos e pelos gestos. Tanto no meu primeiro filme como neste agora há muito desse expressionismo. Talvez eu venha daí.
Folha - Você está com algum projeto novo?
Teresa - Estou escrevendo um novo roteiro. Estou preparando um outro filme, que espero começar a rodar em dois ou três meses. É uma mudança completa, uma espécie de documentário muito livre sobre as crianças em Portugal. Vai se chamar ``Outros Portugueses".
Os documentários sobre crianças costumam ser feitos de cima para baixo. Quero fazer um documentário do lado das crianças. Quero mostrar também o seu orgulho, a sua raiva e a sua força. (BC)

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