São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Bom senso

Bom senso
Marcelo Beraba
SÃO PAULO – Enfim, um pouco de

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Enfim, um pouco de bom senso em meio a histeria em que se transformou a discussão sobre o Rio de Janeiro.
Refiro-me ao manifesto do movimento Viva Rio que defende uma ação conjunta dos governos federal e estadual mas que se coloca claramente contra ações excepcionais como a decretação do estado de defesa.
Segundo o presidente do movimento, Rubem César Fernandes, uma intervenção no Estado ou a decretação do estado de direito, embora constitucionais, seriam um golpe na construção da democracia. Principalmente agora, em fim de governo e durante campanha eleitoral.
Os governos (federal, estadual e municipal) têm, em conjunto, um duplo desafio: adotar ações imediatas que devolvam a tranquilidade à cidade e oferecer um projeto que reerga o Rio.
A primeira tarefa exige ações coercitivas mas que não dependem de medidas excepcionais.
Os instrumentos que os governos dispõem são suficientes, por exemplo, para dificultar a chegada de drogas e armas, para mapear e desbaratar a organização do crime (que, evidentemente, não se limita às favelas) e para criar um novo padrão de policiamento.
Mas estas medidas só terão êxito com novas polícias (civil, militar e federal). Duvido que os governos tenham coragem de enfrentá-las. É mais fácil adotar medidas excepcionais que parecem drásticas mas que são paliativos de consequências imprevisíveis.
O segundo desafio, um projeto para o Rio, não depende apenas do governo federal. O país tem outros desafios de igual ou maior tamanho, como o Nordeste, e não vem conseguindo resolver.
O Rio vai ter de encontrar um caminho próprio, como outros Estados vêm conseguindo, que permita uma retomada do desenvolvimento econômico maior do que o que está tendo e que gere distribuição de riqueza.
Não adianta apenas prender 3.000 rapazes que viraram criminosos e que são descartáveis. Tem uma galera de milhões de garotos e jovens esperando uma oportunidade para qualquer coisa. Inclusive para assumir o lugar dos que morreram ou estão presos.

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