São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994
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Argentina recebe eleito como "benfeitor"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

No caso da visita do presidente eleito Fernando Henrique Cardoso à Argentina, o tapete vermelho a ser estendido à sua chegada, hoje, será muito mais do que mero protocolo habitual.
Para as autoridades argentinas, FHC, como pai do Plano Real, é uma dupla bênção. Primeiro, porque, ao sobrevalorizar a moeda brasileira, anulou em parte os problemas que a Argentina tem com a sobrevalorização de sua própria moeda, o peso.
Ocorre que o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina e absorve 25% das exportações do vizinho.
Ameniza-se, por isso, a dificuldade que a Argentina tem para exportar com uma paridade cambial que não muda, em relação ao dólar, desde abril de 1991, embora a inflação interna, no período, tenha sido de aproximadamente 56%.
O consulado argentino em São Paulo tem filas de exportadores à porta, desde a introdução do real, uma indicação perfeita do alívio produzido na Argentina pelo plano brasileiro.
Além disso, as autoridades argentinas contam com um "boom" de consumo no Brasil, em função da estabilização.
Baseiam-se na sua própria experiência, que ajudou a produzir um crescimento econômico de 25% nos três últimos anos.
Um vizinho que cresce é um vizinho que importará mais ainda, torce-se em Buenos Aires, com razões de sobra. Além desses motivos econômicos, há razões diplomáticas para que a visita se transforme em um mar de amenidades.
Por mais que a retórica diplomática argentina seja francamente pró-norte-americana, o fato é que a grande aposta do presidente Carlos Menem é mesmo o Mercosul.
Não faz muito, a Argentina recusou sondagem do governo norte-americano para negociar diretamente uma eventual vinculação ao Nafta (Zona Norte-Americana de Livre Comércio, formada por EUA, Canadá e México).
Preferiu negociar na fórmula batizada de 4 x 1 (Nafta x os quatro países do Mercosul, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Idêntica fórmula foi defendida, na recente viagem ao Leste europeu, pelo próprio FHC.
A única e pequena divergência entre as duas chancelarias diz respeito ao assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Brasil é candidato a esse posto, como representante latino-americano. A Argentina prefere que a cadeira seja rotativa.

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