São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Violência faz teen esconder ida a estádio de seus pais

VALMIR STORTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Palmeiras, paixão de S.P., 16, requer algumas mentiras e cuidados especiais para evitar confusões.
Sempre que o time joga em São Paulo, ela toma dois ônibus para sair da zona sul e chegar até a sede da Mancha Verde, torcida organizada da qual ficou sócia após seus dois irmãos se filiarem.
"Saio de casa sem dizer onde vou. Se na volta me perguntarem onde eu estava, digo que fui ao clube ou ao Parque do Ibirapuera", diz.
"Se meu pai soubesse que eu vou aos jogos ele ficaria no meu pé. Quando eu pedia para ir ao estádio ele dizia: 'Não vou nem responder', por causa da violência", conta.
Mesmo sabendo que seus irmãos também irão ao estádio, S.P. prefere ir só, de ônibus. "Não gosto de ir nem mesmo de carro. Estando sozinha eu tenho para onde correr em caso de confusão."
S.P. sai de casa sem nada que a relacione com a Mancha Verde. "Não uso camisa e não ando com a carteirinha. Assim ninguém mexe comigo."
No dia 19 do mês passado assistiu à vitória palmeirense contra o Santos, por 2 a 0, com dois colegas. Voltaram para casa acompanhados de outros cinco garotos, entre eles seu irmão. Ao descer na av. Paulista, tiveram que correr de santistas.
Perdeu o ônibus, chegou em casa às 4h e não teve problemas porque estava com seu irmão.
Não foi a primeira vez que correu riscos. Em um dia de clássico com o São Paulo, a Mancha do seu bairro se encontrou em uma área dominada pela Gaviões da Fiel.
Os corintianos não gostaram da idéia. Na volta teve briga. "Tive que correr de um rojão que jogaram contra mim. E eu conhecia os caras", conta.
Quando está no estádio não consegue assistir ao jogo todo. "Eu fico muito nervosa", diz.
No Parque Antarctica desce até o bar para um refrigerante. No Morumbi, fica vagando pelos anéis da arquibancada.
Senta com amigos longe das organizadas. "Depois do segundo gol contra o São Paulo houve um empurra-empurra e eu machuquei minha perna. Ainda dói."
S.P. estuda pela manhã. Não trabalha. Deixou seu último emprego, em um shopping, para não perder mais os jogos noturnos e dos sábados.

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