São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994
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O PT procura uma vitrina

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Depois de denunciar supostas irregularidades no patrimônio de Valmir Campelo, candidato do PTB a governador de Brasília, o deputado Chico Vigilante, do PT, recebeu ontem ameaças de morte –a polícia entrou na investigação e já tem o número do telefone de onde partiu a ameaça. É um detalhe revelador do ambiente que contamina o Distrito Federal, transformado em prioridade pelo PT.
A julgar pelas pesquisas de opinião como o Datafolha, o PT é, até aqui, favoritíssimo –Cristovam Buarque vem conseguindo crescer a cada pesquisa, para o desespero não apenas de Valmir, mas do governador Joaquim Roriz. Nem as bênçãos do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, ao candidato do PTB conseguiram por enquanto inverter a tendência.
Não está em jogo apenas uma sucessão local. Daí o empenho da cúpula nacional do PT, em especial de Luiz Inácio Lula da Silva. Eles querem transformar Brasília numa vitrina administrativa do partido. Tem sentido.
Um governo bem-sucedido em Brasília tende a gerar repercussão nacional –mais do que, por exemplo, Rio Grande do Sul, onde o PT tem boas chances de vitória. Ali, crescem as chances de Olívio Dutra, apoiado pelo PDT e PPR.
O Distrito Federal não é apenas a sede dos poderes da República e das embaixadas, mas um centro irradiador de opinião. Aqui estão concentradas as principais sucursais dos veículos de comunicação.
A vitrina é um risco. Se, de um lado, ajuda quem vai bem, esmaga quem for mal. Óbvio. Político moderado e flexível, Cristovam Buarque sabe que, se eleito, terá dificuldades não apenas com seus adversários, mas com seus aliados. O PT de Brasília é o quartel-general do corporativismo.
Só quem não conhece um mínino da cidade imagina que Brasília é a "ilha da fantasia". Agravam-se os problemas sociais, disseminam-se a violência e o desemprego, reproduzindo exatamente o drama dos grandes centros urbanos.

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