São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994
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Exército e drogas

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO – Não sei quem teve a idéia de colocar as Forças Armadas para combater o narcotráfico no Rio, mas é claro como o dia que o comércio ilegal de drogas não vai acabar. Não acabou nos EUA, que gastam bilhões de dólares na repressão, e não acabou nos países latino-americanos que conferiram esta missão a seus exércitos.
Aliás, a participação das Forças Armadas no combate ao tráfico traz mais riscos do que soluções duradouras. Se a suposta colaboração entre os militares e as polícias fluminenses não funcionar, como parece ser o caso, o próximo passo poderá ser a intervenção federal. Daí a imaginar o Rio de Janeiro transformado numa Belfast sitiada não é muito difícil. Quem sabe o carioca não terá saudades destes tempos em que apenas um punhado de marginais e policiais munidos de ridículas escopetas e submetralhadoras trocavam alguns tirinhos. E isso é até meio óbvio. Não é à toa que o pessoal da inteligência militar era contrário à participação das Forças Armadas nessa operação.
O fato de o tráfico ser inextinguível não exime a sociedade de buscar alternativas para tentar diminuir a violência que o acompanha. E a mais lógica e menos hipócrita delas é tirar as drogas da ilegalidade. Os fantásticos lucros auferidos pelos traficantes e, consequentemente, todo o seu poder de corromper e gerar violência provêm justamente do fato de as drogas serem ilegais.
Assim, o Estado e a população teriam muito a ganhar se, em vez de gastar fábulas numa guerra perdida, as drogas fossem liberadas para os adultos e altos impostos sobre seu consumo fossem cobrados. Com esses recursos, o governo poderia promover campanhas de prevenção contra o abuso de fármacos e fornecer tratamento adequado aos dependentes, recursos de ação mais efetiva que a simples repressão. Essa tese não é minha, mas de economistas da escola de Chicago, o templo da ortodoxia.
De resto, não existe documentação científica séria que prove que o álcool deva ter seu comércio liberado e a maconha ou a cocaína não.

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