São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Desvantagens da dolarização

DEMIAN FIOCCA

Discute-se fixar o câmbio e adotar a conversibilidade: livre troca de reais por dólares.
Concretamente, pouco mudaria: a pressão contra a inflação continuaria sendo a importação barata, como é hoje. No futuro, porém, pagaria-se caro: perde-se a possibilidade de ajustar a política comercial às necessidades do país. Se os importados destruírem a indústria, paciência. Pois, tendo o dólar como âncora, aí sim, qualquer variação na taxa de câmbio seria automaticamente inflacionária.
O custo dessa medida é alto e suas vantagens são duvidosas, pois baseiam-se na impalpável esfera das expectativas. A lógica é que, podendo fazer contratos em dólares, deixaria-se de corrigi-los pelos índices de preços. Será? O dólar passaria a ser a referência. Nada garante.
A dolarização argentina teve três anos de relativo sucesso até atingir a crise em que se encontra. O Brasil já começaria com a água no pescoço. O dólar caiu 17% e 1995 se inicia com 20% de inflação acumulada.
Os preços que não sofrem concorrência externa não deixarão de subir porque o dólar está barato. Os que sofrem não dependem da conversibilidade para deixar de subir. Em vez de engessar a política comercial, melhor seria ganhar credibilidade saneando o Estado. Um bom governo é a garantia da moeda.

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