São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há espaço para um choque de juro

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O fim dos indexadores oficiais só deve acontecer no início do próximo governo. Dificilmente FHC abandonará a estratégia que adotou enquanto ministro da Fazenda: criar expectativas favoráveis de médio e longo prazos e evitar providências radicais.
Ao invés de anunciar medidas concretas, divulga o compromisso de efetuar uma série de mudanças. Cria, com isso, um ambiente de distensão dos ânimos para o primeiro semestre de 95.
A maioria do mercado acha que as alterações deveriam ser feitas já, pois a constatação lamentável é de que nada pode ser, no âmbito restrito da política econômica atual, sacado para amortecer as atuais pressões inflacionárias.
Mas a antecipação das mudanças não se mostra exequível politicamente, pois colide de frente com o populismo da dupla Itamar-Ciro.
O receio da equipe é o trabalho de chantagem perpetrado por Ciro Gomes. Não há possibilidade de Ciro permanecer ministro da Fazenda, mas luta para manter-se no futuro ministério. Para isso, conta com um poder de retaliação formidável, que consiste em sua capacidade de provocar estragos na economia até o final do ano.
A única certeza do mercado é de que não virá um choque de juros. O mercado duvida que o BC dê uma paulada no over e duvida da eficácia das medidas.
Os juros não podem ter ajuste vigoroso por dois motivos: 1) mesmo sem oferecer rendimento real compensador, já consegue atrair capital externo acima do desejado; 2) os custos financeiros das empresas já estão onerados em demasia pelo compulsório de 15% sobre o crédito e a alta real dos juros seria repassada para os contratos.
Os ajustes previstos para o over são mínimos. Os negócios a termo apontam 6,10% para o dia 16 e 6,20% para 1º/12.
Fechando novembro com ganho de 4,20%, o CDI pagará juro real bruto de 0,87% ao mês ou frente às projeções de inflação da "Agência Dinheiro Vivo", 3,30%. Trata-se de juro real nada alto, porque a carga tributária dos ativos absorve boa parte dele.
Nominalmente, os juros irão subir no mês que vem. Pelas projeções do DI futuro, o CDI efetivo pulará de 4,20% este mês para 4,65% em dezembro.
Quando o critério é o do custo do dinheiro por dia útil a diferença é mínima. Como dezembro tem dois dias úteis a mais que novembro (22 contra 20), a variação do CDI diário avançará apenas de 0,2059% para 0,2068%, apesar da alta mensal. Isso impede altas mais acentuadas dos juros dos CDBs.
Nesta semana, o CDB pré chegou a embutir taxa-over maior do que a variação prevista para o CDI. Nessas ocasiões, o pré é recomendável como diversificação.
Parte do caixa deve ancorar-se em ativos mais flexíveis, indexados ao CDI. As hipóteses de choque de juros e repique da inflação são remotas nos próximos 30 dias. Mas não abra a guarda.

Texto Anterior: Qual reforma tributária esperar
Próximo Texto: Crédito em dólar é opção
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.