São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Comissão disciplinar, piada para português rir

TELÊ SANTANA

Os portugueses já têm motivo para rir de uma piada de brasileiros: os julgamentos da comissão disciplinar da CBF. Só gargalhando para encarar a falta de lógica das decisões dessa comissão.
A graça está no absurdo. O atleta que é condenado por uma ou duas partidas não têm direito ao efeito suspensivo, que lhe dá o direito de continuar jogando enquanto espera novo julgamento.
Só aquele que pega uma pena maior, três ou mais jogos, é que pode ter o direito do efeito suspensivo. Isso vai contra a lógica!
Na Justiça Comum, quem comete um crime menor tem alternativas como o sursis, a prisão albergue etc. Mas, quem comete latrocínio, por exemplo, a lei é mais rigorosa, porque o crime é violento.
Isso me faz pensar que, também no futebol, as leis são feitas por pessoas que têm medo. Afinal, elas também correm o risco de punição. Assim, se a pena é grande, existe a possibilidade de se driblar a lei.
Há um aspecto na comissão disciplinar que apóio parcialmente: o julgamento sem direito à defesa. O que devia existir eram leis esportivas específicas, que já punissem determinadas faltas sumariamente.
Na Itália, por exemplo, o jogador que cuspe no rosto de outro recebe uma punição direta. Não há o que discutir. Por isso há menos violência nos campos europeus do que aqui.
Isso serviria para evitar situações absurdas como o julgamento do Neto, hoje jogador do Santos, que cuspiu na cara do árbitro José Aparecido de Oliveira, há três anos.
O julgamento tomou um curso que parecia que o árbitro é quem tinha cuspido no jogador, apesar das imagens de TV mostrarem o contrário. Se a prova é evidente, não há o que discutir.
Esse tipo de atitude é que permite a falta de respeito de alguns jogadores, que entram em campo preocupados só em acertar o adversário.
Eles sabem que, mesmo penalizados, existe uma forma de abrandar a pena. Daí favorece a impunidade.
E, se o problema já não fosse grave, desperta ainda consequências piores, como incentivar os torcedores à violência.
Afinal, se jogadores brigam em campo, são julgados, mas voltam na rodada seguinte, por que eles não podem também?
Temos que evitar cenas lamentáveis que assistimos nos estádios e mesmo nas sedes das organizadas, como aqueles são-paulinos que foram barbarizados na Mancha Verde.
Futebol é espetáculo, mas também uma forma de educar.

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