São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Cariocas priorizam ataque a substâncias legais

SANDRO GUIDALLI
DA SUCURSAL DO RIO

No Rio de Janeiro, que se prepara para uma intervenção do Exército contra os traficantes de drogas, substâncias como maconha e cocaína não são o principal problema para as autoridades que lidam com adolescentes.
A atual política do governo do Rio em relação ao consumo de drogas entre os alunos da rede pública e privada de ensino prioriza mais a prevenção do uso de solventes, calmantes e anfetaminas do que o consumo de maconha e cocaína.
O presidente interino do Conen (Conselho Estadual de Entorpecentes), Aurélio Fé, 35, disse à Folha que os adolescentes começam a se drogar com acetona e moderadores de apetite (do tipo Moderex) ou calmantes (como o Valium). "A boca de fumo do estudante carioca não é no alto dos morros, e sim na prateleira da mãe dele", disse Fé.
O presidente do órgão fluminense que elabora a atuação do governo na área de entorpecentes conta que costuma receber em seu gabinete mais viciados nestes produtos que dependentes de cocaína.
Fé, um ex-viciado nos mais diversos tipos de droga, diz que a maioria passa ainda na adolescência a consumir álcool trocando o vício sintético (esmalte e acetona) pelo das bebidas destiladas.
"O problema é que as pessoas não percebem que o que elas têm em casa é tão perigoso quanto um baseado", avalia Fé. Ele diz que o tráfico e consumo de drogas nas escolas aumentou mas não se compara com o uso das chamadas drogas lícitas.
Aurélio Fé se baseia numa pesquisa feita pelo governo federal no ano passado, que concluiu que os alunos do primeiro e segundo graus do Rio costumam tomar o primeiro contato com drogas ingerindo calmantes e cheirando cola, esmaltes e acetona.
"Essa pesquisa mostra que, enquanto 2% dos pesquisados afirmam já ter experimentado cocaína, 15,4% já experimentaram cola ou esmalte", afirma.

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