São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Juízes Mãos Limpas investigam Berlusconi

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A NÁPOLES

O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi está sendo investigado pelos promotores da Operação Mãos Limpas –inquisição sobre corrupção na Itália.
Ao lado de um castelo renascentista, na presença de 140 delegados de países membros da ONU, Berlusconi recebeu aviso às 10h30 alertando-o de que seria notificado judicialmente sobre a investigação.
"Essa é uma história de seis meses, uma história muito velha. Meus assistentes já foram interrogados sobre ela, como milhares de outros executivos milaneses. Os homens de negócios, como eu, têm sido vítimas da corrupção, e não agentes ativos dela", afirmou a um grupo de 200 jornalistas ao deixar a 1ª Conferência Mundial do Crime, organizada pela ONU.
Ao sair do Palácio Real, Berlusconi afirmou em tom de discurso: "Estou sereno, vou em frente".
Segundo a edição de ontem do jornal "Corriere della Sera", o premiê é investigado junto com seu irmão Paolo e Salvatore Sciascia, responsável pelos serviços fiscais da Fininvest, holding do grupo Berlusconi.
Os três são acusados de terem pago propina de 230 milhões de liras italianas (o equivalente a US$ 152 mil) em duas etapas. Na primeira, 130 milhões de liras teriam sido entregues ao general Giuseppe Cerciello, ao tenente-coronel Angelo Tanca, e ao marechal Silvio Ballerini.
Salvatore Sciascia durante seu interrogatório, no primeiro semestre, assumiu ter feito o pagamento sob ordem de Paolo Berlusconi, na época diretor do Fininvest.
No início de 92, teriam sido pagos 100 milhões de liras para que membros do Fisco deixassem de taxar a Mediolanum Vita.
Segundo a promotoria, o dinheiro foi recebido pelo tenente-coronel Giuseppe Morabito, pelo marechal Umberto Gilardino e pelo brigadeiro Marco Spaggoli. Paulo assumiu a responsabilidade.
Quando Berlusconi chegou a Roma para encontrar-se com o presidente egípcio Hosni Mubarak, recebeu uma notificação assinada pelo promotor Antonio di Pietro, que dizia: "Vimos por essa notificá-lo de que o senhor é objeto de investigação judicial".
Em seguida, o porta-voz do governo, Jas Gawronski, convocou a imprensa para dizer que Berlusconi não se demitiria. Ele considerou como um "golpe" a divulgação da notificação no dia em que Berlusconi discursava na abertura do congresso anticrime, em Nápoles.
No Palácio Real, repórteres da cadeia de televisão de Berlusconi, o Canale 5, começaram a transmitir ao vivo entrevistas com os repórteres internacionais.
"O senhor não acha que é um golpe político divulgar uma notícia dessas bem no dia em que o premiê discursa num congresso anticrime?", perguntaram.
Os repórteres do "Corriere della Sera" Grofredo Buccini e Gianluca di Feo foram notificados pela Justiça. Foi instaurado um processo para apurar como as informações sobre a investigação de Berlusconi chegaram até eles.
A lira caiu em relação ao marco coma divulgação da notícia. Ela foi cotada a 1.032,37 em relação ao marco alemão. Na segunda-feira, um marco valia 1.024,96.

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