São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Exército põe Borel sob 'toque de recolher'

DA SUCURSAL DO RIO

Os moradores do morro do Borel (zona norte do Rio de Janeiro) acordaram hoje com um novo símbolo ocupando o topo do morro: a bandeira brasileira, erguida por quatro soldados do Exército, às 7h10.
A bandeira substituiu o cruzeiro derrubado ontem pelos militares, por ser um dos símbolos do poder do tráfico local.
As tropas que ocupam o Borel desde ontem permaneceram durante toda a noite. Uma mensagem divulgada através de alto-falantes da associação de moradores do Borel recomendava aos moradores que não circulassem pela favela a partir das 20h.
"Depois das 20h também não era permitido sair do morro", disse o morador Evanildo do Espírito Santo, 42.
O toque de recolher foi negado pelo major Francisco Paiva, oficial do setor de Comunicação Social do Exército.
Quase todos os bares do Borel fecharam suas portas cedo e as ruas da favela ficaram praticamente desertas, segundo relato de moradores que saíram hoje pela manhã.
Durante a noite, o silêncio da área só foi quebrado por um grupo de "pagodeiros" que se apresentava no único bar aberto de madrugada na rua Conde de Bomfim, na Tijuca, uma das entradas para o Borel.
A presença dos soldados do Exército no bairro acabou virando tema de pagode.
O compositor do grupo, conhecido como Paulinho Simpatia, cantarolava os primeiros versos do "Pagode do Exército", inspirado na ocupação militar da área.
A identificação e a revista dos moradores da área isolada pela Operação Rio prosseguiu durante toda a madrugada e a manhã de hoje.
O bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio, d.Karl Romer, disse ontem de manhã, que não tinha conhecimento da invasão por tropas do Exército da igreja de São Sebastião, no morro do Borel.
A invasão foi denunciada ante-ontem à noite pelo padre Olinto Pegoraro.
O bispo-auxiliar aformou que ainda iria se informar sobre o assunto. "Depois tomarei as medidas necessárias", disse.

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