São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Fazenda prepara programa de desindexação para FHC

VIVALDO DE SOUSA; GUSTAVO PATÚ; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Fazenda deve concluir até o final de dezembro as propostas para desindexação da economia.
As propostas devem ser entregues ao presidente eleito Fernando Henrique Cardoso antes mesmo de sua posse, no dia 1º de janeiro.
Caberá ao novo presidente tomar a decisão –qualificada pela equipe de política– de adotar ou não as medidas ainda em estudo pela equipe econômica.
A expectativa da equipe é que Fernando Henrique decida por fazer uma desindexação por etapas –em vez de adotar o fim da correção de uma única vez.
Salários
As medidas de desindexação prevêem o fim da Ufir mensal (Unidade Fiscal de Referência, que corrige os impostos), a antecipação do fim do reajuste automático de salários pelo IPC-r (Índice de Preços ao Consumidor em real) e alterações na TR (Taxa Referencial de juros).
As duas primeiras devem ser adotadas antes. A equipe considera que há muitas dificuldades para mudar a TR.
Trata-se do indexador da caderneta de poupança e da maioria dos contratos de longo prazo, inclusive os do Sistema Financeiro da Habitação.
Efeito sazonal
A equipe quer iniciar o processo de desindexação já dispondo da apuração dos índices de inflação dessazonalizados –que excluem os efeitos sazonais, como clima, nos preços dos produtos.
É provável que ainda em dezembro ocorra o primeiro teste deste novo tipo de índice.
O governo já vem preparando o caminho para a desindexação total da economia.
Deve ser divulgada na próxima quarta-feira a metodologia de cálculo da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que vai substituir a TR na correção dos financiamentos de longo prazo feitos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Outra medida foi a proibição da indexação dos contratos de seguros firmados a partir do próximo mês.
Reposição automática
O principal, porém, deve vir a partir de janeiro. Ao extinguir o IPC-r, o governo eliminará a reposição automática da inflação medida por este índice nas datas-base das categorias, até julho de 1995, conforme a lei 8.880.
A extinção da Ufir mensal é considerada a medida mais fácil de ser adotada, pois a partir de julho último ela permaneceu apenas como indexador dos impostos atrasados, tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte e para calcular o ganho real das aplicações financeiras, sobre o qual incide o Imposto de Renda.
Mesmo assim, toda a legislação tributária precisa ser adequada ao novo regime. A política de impostos do país está vinculada à indexação desde a reforma tributária feita a partir de 1964.
Balanços
O fim da Ufir implica inclusive a revogação da legislação de correção dos balanços das empresas. Caso isso não seja feito, o governo corre o risco de assistir uma avalanche de pedidos na Justiça de eventuais perdas.
A TR, de acordo com os estudos que vêm sendo conduzidos pela equipe econômica, não deve ser extinta de imediato. O indexador pode até mesmo nem vir a ser eliminado.
"A TR não é indexador, é uma taxa de juros", diz o diretor de Política Monetária do Banco Central, Alkimar Moura.
Segundo Moura, a preocupação maior é com o uso informal da TR como indexador –e isso acontece, basicamente, porque o Banco Central fixa a TR de olho nos índices de preços. A solução seria desvincular a TR –e os juros portanto– da inflação.
(Vivaldo de Sousa, Gustavo Patú
e Liliana Lavoratti)

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