São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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A subida dos juros e inflação nos EUA

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

A taxa de juros de curto prazo nos Estados Unidos subiu na semana passada, conforme a imprensa noticiou. No artigo de hoje vamos enfocar a relação entre a taxa de juros, desemprego e inflação que existe na economia americana.
Antes de mais nada, um alerta. A relação que vamos comentar não se aplica para os países de inflação elevada, como o Brasil. Nestes casos, o problema é principalmente de descontrole monetário, como no nosso caso, onde se inventou a moeda indexada (e ainda estamos presos a esta arapuca fenomenal).
A taxa de juros de referência hoje em dia nos Estados Unidos é a taxa sobre os fundos federais, isto é, a taxa que o Banco Central americano ("Federal Reserve") cobra para empréstimos de curtíssimo prazo aos bancos. Esta taxa é utilizada pelo "Fed" para sinalizar sua posição se os indicadores econômicos estão dentro do desejado.
A taxa dos fundos federais havia sido reduzida para 3,5% ao ano no primeiro semestre de 1992 e para 3% ao ano no segundo semestre daquele ano. Ficou neste nível reduzido até o início de 1994 e, por permitir a expansão do crédito a juros baixos, ajudou a impulsionar o crescimento da economia (o PIB está crescendo cerca de 4%).
Na semana passada, o "Fed" elevou essa taxa em 0,75%. Foi a sexta elevação este ano: em fevereiro, a taxa havia subido para 3,25% (ao ano); em março, foi para 3,5%; em abril, foi para 3,75%; em maio, nova elevação para 4,25%; agosto, 4,75%; e agora a taxa chegou a 5,5% (as demais taxas de juros acompanham aproximadamente esta referência, formando uma pirâmide de taxas).
A principal razão da subida dos juros é a preocupação de que o ritmo relativamente forte do crescimento da economia pudesse deflagrar pressões inflacionárias, o que se quer evitar. No presente, a inflação está bastante baixa (2,6% nos últimos 12 meses).
Mas como a economia cresce com rapidez e indicadores como a taxa de ocupação da indústria estão chegando no limite que acende sinais de alerta, o "Fed" resolveu agir, elevando a taxa de juros para desacelerar o crescimento e evitar que o "gênio" da inflação saia da garrafa.
Uma relação conhecida dos estudantes de economia diz que nas economias industrializadas existe um nível de "pleno emprego que não causa a inflação". Ultrapassado este limiar, as pressões inflacionárias aparecem. Veja que não se trata de "pleno emprego" no sentido de haver desemprego zero ou de 100% de ocupação da capacidade instalada.
Boa parte dos economistas americanos, baseados na experiência e em estudos, acredita (ou supõe) que quando a taxa de desemprego atinge o nível de 6%, alcançou-se esse limiar. Deixar a economia continuar a crescer, baixando mais o desemprego, costuma trazer inflação. A taxa de 6%, aparentemente alta, é justificada pela existência de um amplo programa de seguro-desemprego e outras formas de seguridade social.
A relação de que falamos está ilustrada pelo gráfico. A figura mostra a taxa de inflação medida pela variação anual dos preços ao consumidor e a taxa de desemprego. Destaca-se os períodos em que a taxa de desemprego ficou abaixo dos 6% e percebe-se uma correlação negativa entre os dois indicadores.
A elevação da taxa de juros objetiva desacelerar o crescimento para algo como 2,5% ao ano. A justificativa é que assim será possível ter crescimento por mais tempo, sem pressões inflacionárias.
Mas tal medida também está recebendo várias críticas. Setores ligados à indústria, construção e comércio acreditam que a economia mudou muito na última década. Com a maior utilização da informática, a produção mais flexível, os cortes nos custos de fabricação e de gerência e a maior competição internacional, é possível que o baixo desemprego não se traduza tão rapidamente em inflação.
Neste caso a melhor opção seria a de crescer mais e empregar mais gente. O risco maior da medida é o de frear a economia e iniciar uma recessão, o que tampouco seria desejável. Mas assim como elevou, o "Fed" pode baixar a taxa, se perceber sinais de recessão.
Fazendo um balanço do quadro, a ação do "Fed" teve um claro propósito sinalizador de que não se vai tolerar inflação no período vindouro. Também parece que as taxas de juros atingiram agora um certo patamar que não deve mudar tão cedo, exceto se por algum fator, ainda não verificado, notar-se mais pressões inflacionárias. Mas não há indicação disso no presente.
PS-1: Boa música brasileira por aqui. Domingo passado teve show da Marisa Monte. Com um swing fantástico, a numerosa comunidade de estudantes brasileiros e expatriados pode dançar no clube Roxy.
PS-2: Muito progresso nesta semana nas conversas entre republicanos e democratas sobre o novo acordo do Gatt de liberalização do comércio. Diferentemente do que parecia, tudo indica que o acordo será aprovado na semana entrante.

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