São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Livro de cartas revela amor por Hitler

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

"Todo dia penso no senhor, toda hora e todo minuto. Não consigo amar ninguém além do senhor", escreveu Hanna G. em junho de 1941, em Elsflethersand. O destinatário: Adolf Hitler.
Hanna G. é autora de uma das cartas de amor enviadas ao ditador nazista, durante a Segunda Guerra (1939-1945) que acabam de ser publicadas na Alemanha.
Lançado pela editora acadêmica VAS, de Frankfurt, o livro "Cartas de Amor a Adolf Hitler - Cartas para a Morte" traz 43 escritos inéditos. As cartas foram achadas no fim da guerra pelo oficial norte-americano William Emker. Ele conta no livro que decidiu esperar quase 50 anos para divulgá-las, "para não causar embaraços".
Mesmo assim, segundo o editor Helmut Ulshoefer, os textos foram trabalhados, alguns erros ortográficos corrigidos e nomes e endereços mudados. Muitas remetentes podem ainda estar vivas.
Emker pertencia às tropas norte-americanas estacionadas em Berlim depois do fim da Guerra.
Ele conta que, em 1946, passeava pelas ruínas da "Reichskanzlei" –sede do governo nazista–, quando no meio de uma montanha de documentos pegou um amontoado de cartas endereçadas ao "querido Fuehrer".
A curiosidade levou o americano várias vezes ao prédio destruído pelos bombardeios da guerra. Ele entrava por um portão pouco vigiado e vasculhava os documentos espalhados pelos escombros.
A "Reichskanzlei" –localizada no centro de Berlim– ficava na zona ocupada pelas tropas soviéticas. Como militar americano, Emker podia circular por aquela área, mas não queria que outros percebessem seu interesse.
O oficial calcula que tenha ido mais de 20 vezes ao local. Lá, ele recolheu cerca de 8 mil cartas.
As cartas de amor foram editadas em quatro capítulos. O primeiro traz, principalmente, felicitações ao "Fuehrer", muitas delas anônimas.
O segundo, cartas de amor mais longas, com informações sobre a remetente e seu cotidiano.
A terceira parte apresenta cartas de caráter mais erótico. Lá também está um pedido de casamento.
O quarto capítulo traz cartas de mulheres que acabaram sendo perseguidas pelo próprio governo nazista, por escreverem com insistência coisas sem muito nexo.
Todo o material é acompanhado de fotos e documentos sobre a Guerra e o extermínio de judeus pelos nazistas, confrontando fatos com a alienação das mulheres apaixonadas por Hitler.
Segundo Emker, é possível que o ditador tenha lido poucas dessas cartas: muitos originais levam o carimbo "arquivado" e, segundo comentam as próprias remetentes, eram enviadas cartas-padrão agradecendo em nome do "Fuehrer".
Mas, para o oficial americano, os sentimentos de decepção e desespero manifestados em muitas cartas indicam que a maioria delas ficou sem resposta.

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Sobre cartas de amor para Hitler à pág 2-6

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