São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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China promove patriotismo com novela

JAIME SPITZKOVSKY
DE PEQUIM

O Partido Comunista chinês, na era da economia de mercado, troca as tonalidades desbotadas das cadeias comunistas pelas cores fortes do nacionalismo.
Na nova onda ideológica, uma novela de televisão se baseia em ficções épicas e os karaokês oferecem um repertório patriótico.
Atual sucesso na TV chinesa, O Romance dos Três Reinos apresenta o título de a mais longa novela com enredo histórico já produzida pela televisão do país: 84 capítulos, transmitidos diariamente desde outubro.
Como cenário, a China imperial entre 184 e 280 d.C., época marcada pelas guerras entre senhores feudais quando se desmanchava, na parte oriental do país, o poder de uma dinastia Han.
Em 1949, os comunistas de Mao Tse-tung chegaram ao poder e rejeitaram os valores da opressão imperial e burguesa.
Mas agora, com a expansão do capitalismo de Deng Xiaoping, o PC se esforça para manter o poder e resgata do baú antigos slogans patrióticos.
Em vez de olhar para o futuro brilhante do proletariado, os chineses são chamados para rever um passado glorioso dos guerreiros.
O PC, com a novela O Romance dos Três Reinos, endeusa o personagem Guang Yu, um general leal a seus irmãos e amigos e um bravo no campo de batalha . Mensagem: chineses, confiem em seus dirigentes e desconfiem das influências ocidentais do tipo democracia representativa.
Guang Yu também transpira virtudes humanas e integridade moral. Mensagem: chineses, mobilizem-se contra o aumento da criminalidade e da corrupção, fenômenos que engordaram com a injeção de capitalismo.
Outro personagem, o imperador Liu Rei, ganha os contornos de um professor de administração de empresas. O comportamento imperial, generoso e compreensivo com os súditos pode ser um exemplo para empresários.
Assim como os noveleiros, os frequentadores de karaokê também se transformaram em alvo da ofensiva patriótica do PC chinês.
Na semana passada, o Ministério da Cultura disparou uma ordem para as casas de música se equiparem com uma trilha sonora nacionalista. Caso contrário, correm o risco de serem fechadas.
A medida busca difundir o patriotismo entre as massas, explicou Pan Yi, funcionário do ministério encarregado de vender o disco-laser com 55 músicas que entoam ritmos das Conquistas da República Popular da China.
O som deve se espalhar pelas mais de 200 mil salas de karaokê e clubes noturnos existentes no país.

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