São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Taxa de câmbio oscila como Bolsa de Valores

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os mistérios do câmbio são para os economistas de hoje o equivalente à depressão nos anos 30: um tema associado a catástrofes, um fenômeno visivelmente incontrolável, pivô de batalhas tão ideológicas quanto conceituais.
Agora o assunto tornou-se crucial na economia brasileira, onde o real vale mais que o dólar. Mas o debate vem de longe. Já está demonstrado, por exemplo, que todos os modelos cambiais simplesmente falharam na explicação da evolução das taxas de câmbio no Primeiro Mundo nos anos 80.
Deram em nada tanto os que apostaram numa tendência inexorável do câmbio ao equilíbrio quanto os que tentaram associá-lo às variações nas taxas de juros.
Foram assim proliferando modelos que ao fim apenas descrevem o inexplicável. E com argumentação do tipo ad hoc, como se estivessem demonstrando algo. É considerado ad hoc todo argumento forjado a partir do próprio fato que pretende explicar.
Entre os economistas que mais se dedicaram a estudar e escrever sobre diferentes sistemas cambiais está o nórdico Lars Svenssen.
Entre as suas encontra-se uma sugestão bastante curiosa: olhar para as taxas de câmbio do mesmo modo como se olha para os movimentos das ações em Bolsas.
A principal característica das oscilações das Bolsas sempre foi embutir, ao mesmo tempo, o que se convencionou chamar de fatores fundamentais e especulativos. Ocorre que essa distinção é apenas isso, uma convenção. E poucas coisas são tão misteriosas quanto a capacidade humana de seguir regras, aceitar convenções.
As Bolsas de Valores são exemplos notáveis de armadilhas especulativas. Especular é sempre sinônimo de antecipar o comportamento alheio. Se acho que uma ação vai subir, compro antes que isso aconteça. Se muitos agentes acham que algo vai acontecer e agem seguindo essa crença, ela se realiza. Ganho se conseguir antecipar aquilo em que a maioria dos agentes vai acreditar. Ganho se, identificando a regra geral, consigo ser a exceção.
Os fatores fundamentais seriam mais objetivos, em eventual oposição à subjetividade coletiva ou ao instinto de massa. Assim, posso comprar a ação de uma empresa se estou informado sobre sua competitividade, lucratividade e potencial de crescimento. O fundamento da decisão é uma avaliação criteriosa de indicadores econômicos e mercadológicos.
A derrota política de Clinton altera os fundamentos do sistema? E a suposta formação de blocos econômicos? Ao longo de todo o ano, o banco central dos EUA elevou as taxas de juros. Juros mais altos deveriam estimular a migração de investimentos em ienes ou marcos para aplicações em dólares. Aumentaria, portanto, a procura por dólares. Conclusão lógica: com o aumento dos juros, o dólar seria valorizado frente às outras moedas. Mas na prática ocorreu justamente o contrário, o dólar não parou de se desvalorizar.
Olhando para o mundo, onde estão os limites entre os fundamentos e a especulação? As moedas (dólar, marco, iene) são compradas e vendidas segundo uma lógica semelhante às decisões em Bolsa. O sistema cambial é portanto função de expectativas, nem sempre racionais, dos agentes que atuam no mercado global.

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