São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994 |
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O brasileiro não vê seus ovos de ouro E que viva nosso futuro campeão! NANDO REIS; MARCELO FROMER
Parece que, quanto mais próximos estamos das semifinais (decididas ontem), enfim, quanto mais nos aproximamos da verdadeira competição e da real medição de forças entre os times para ver quem tem a melhor capacidade técnica e tática para superar os seus adversários, quanto mais próximos da decisão, mais evidentes ficam a desorganização e inocuidade dessa tabela. O que há de lamentável nesse quadro caótico do nosso futebol é que, justamente quando teríamos tudo para nos impor como a força máxima do futebol mundial, graças ao tetracampeonato, título conquistado por Teimoso e seus comandados, esse magnetismo adquirido através da vitória, esse carisma temporário se dissipa com uma simples brisa de final de tarde. Todo o charme, o glamour, ou mais objetivamente, toda a força que o futebol brasileiro assumiu para seus próprios torcedores foram, de uma maneira vã e infantilesca, jogados na lata do lixo como um bagaço de laranja. É notória a capacidade brasileira de se auto-imolar e de se autodepreciar através da falta de cuidado e atenção com suas coisas mais íntimas e típicas. Já não é a primeira vez que ouvimos falar de que o Brasil só se reconhece lá fora. Um brasileiro enfurnado entre as quatro paredes de seu país-continental não consegue olhar para a flor que nasce do seu próprio umbigo. É preciso que ele saia de seu galinheiro para enxergar o tamanho e a perfeição de seus grossos ovos de ouro. Não é à toa que montamos uma seleção estrangeira para ganhar no estrangeiro praticando um futebol estrangeiro. Parece que não acreditamos mais na chance de atingir uma autoridade que nos devolveria a nossa própria identidade. Não temos mais o futebol brasileiro límpido e nítido. Só o obtemos através do obscuro e imundo calendário brasileiro, que nos condenará, brevemente, ao ostracismo se nada for feito. Deus salve o pé sábio de nossos jogadores e lance nas chamas do inferno as mãos ínfimas dos nossos dirigentes. E que viva o nosso futuro campeão! Quem foi o gênio que inventou o formato e as regras do Campeonato Brasileiro de 94? Resposta: "Foi o psicopata Norman Bates, que, em uma noite chuvosa, resolveu criar algo mais horrendo e bizarro que seus cruéis crimes. Com a ajuda da mãe, inventou as regras de um campeonato maluco e enviou uma cópia para cada federação futebolística do mundo. Mas seu plano de tentar enlouquecer o planeta falhou, pois apenas uma associação aceitou o tenebroso regulamento... a psicótica CBF." (Malcon Robson da C. Renzo, de São Paulo, SP) Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos da banda Titãs Texto Anterior: Nem superstição dá certo Próximo Texto: A volta das meninas Índice |
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