São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juiz da Mãos Limpas renuncia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Juiz da Mãos Limpas pede demissão
Antonio di Pietro se disse usado por grupos políticos em suas investigações de corrupção na Itália
O juiz milanês Antonio Di Pietro, principal estrela da Operação Mãos Limpas, desligou-se ontem da magistratura. "Todas as ações judiciais que tomei foram interpretadas como sendo contra algo ou alguém", justificou-se Di Pietro em sua carta de renúncia.
Na carta, endereçada a Francesco Borrelli, promotor-chefe de Milão, Di Pietro, 44, disse querer "evitar que a investigação se torne um caso de personalidades".
"Todo dia sou atirado às primeiras páginas dos jornais por aqueles que querem me usar contra seus inimigos ou por aqueles que vêem algum fim político no meu trabalho".
O magistrado ganhou notoriedade com os processos por corrupção que mudaram o panorama político da Itália. O descontentamento com os democrata-cristãos e socialistas –maiores atingidos pelas investigações– permitiram a eleição do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O magnata da televisão entrou na política três meses antes da eleição de março deste ano.
Berlusconi foi um dos que mais acusou Di Pietro de usar as investigações com objetivos políticos.
Ontem, o premiê disse que a renúncia de Di Pietro "deixa um gosto amargo mesmo na boca daqueles que consideraram discutíveis uma ou outra faceta de suas investigações". "Deveríamos refletir juntos sobre os erros que levaram o país nos últimos anos a dividir-se, às vezes com inaceitável grau de fanatismo".
O secretário-geral do Partido Democrático da Esquerda (principal partido da oposição), Massimo D'Alema, se disse "conturbado" com a renúncia "que entristece milhões de italianos".
Para ele, a decisão foi tomada em função do "clima de perseguição e intimidação dos últimos meses contra magistrados".
Uma manifestação de cerca de 400 pessoas em frente ao Palácio de Justiça de Milão pedia que Di Pietro não deixe a magistratura.
A popularidade de Di Pietro colocou-o como candidato a premiê em pesquisa divulgada no final de novembro. No caso de se formar um novo gabinete de direita ele era favorito com 24,4% das preferências. Berlusconi tinha 11,9%.
Ao aceitar a carta de renúncia de Di Pietro, o promotor Borrelli disse que nem ele nem seus subordinados têm intenção de deixar a Operação Mãos Limpas. "Nosso trabalho continuará sem interrupção, sem medo e sem fraqueza".

Texto Anterior: Salário divide EUA e América Latina
Próximo Texto: Juízes investigaram 2.150 pessoas em 1.024 dias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.