São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Estados e nação

As dívidas acumuladas por governos estaduais com seus respectivos bancos estão entre as principais ameaças à estabilização da economia. Trata-se de ônus que decorrem das práticas de diferentes governos, por mais de um mandato.
O recurso ao endividamento irresponsável e o descompromisso com a política econômica do país arraigaram-se, lamentavelmente, ao longo do tempo. A noção de que se mede um governo pela quantidade de obras que inaugurou, atribuindo pouca importância ao equilíbrio e lisura da administração, ainda está fortemente presente no Brasil.
A tradição fisiológica do relacionamento entre governo e Poder Legislativo é mais um obstáculo. As máquinas administrativas e os interesses corporativos organizados nos bancos estaduais oporão fortes resistências às mudanças necessárias. Está claro, assim, que o saneamento dos bancos e governos estaduais exigirá um firme compromisso político dos novos mandatários.
O fato de que o descalabro administrativo seja consequência de gestões anteriores não tira dos governadores que tomam posse no início do ano a responsabilidade de corrigir as distorções herdadas. A reestruturação de bancos e máquinas administrativas precisa ser feita.
O equilíbrio das contas públicas é condição imprescindível à consolidação da estabilidade. E desta depende o crescimento econômico e a superação da crise em que o Brasil patina há mais de uma década.
Os desajustes nas esferas estaduais são tão graves quanto o déficit potencial do governo federal. Foi uma dívida de R$ 8,8 bilhões do Estado de São Paulo que forçou o BC a vir em socorro do Banespa. A estimativa de déficit potencial que o governo da União terá de enfrentar em 1995 é da ordem de R$ 10 bilhões. São cifras parecidas.
Não bastam, portanto, as reformas do Estado na esfera federal. Os desafios e exigências do processo de estabilização da economia perpassam todas as máquinas administrativas, órgãos e empresas controlados pelo poder público. Trata-se de enfrentá-los ou fracassar.

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