São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Collor, "paredón"e justiça

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Se permitisse que o fígado orientasse minha opinião (o que, admito, às vezes acontece), solicitaria o "paredón"para o ex-presidente Fernando Collor, como pena mínima.
Esse aventureiro fez um tremendo estrago no país. Há gente séria, como o jornalista Luís Nassif, que acha que Collor é um gênio por ter mudado, supostamente, a "agenda" brasileira.
Não acho que seja assim, mas vou poupar espaço remetendo a questão "agenda" ao texto de Otavio Frias Filho, na sua coluna de quinta-feira passada, e ao editorial desta Folha do domingo. Por mim, esgotam o assunto.
Mesmo que concordasse com a tese de que Collor inovou a discussão político-econômica brasileira, continuaria achando impossível perdoá-lo. Não se pode fatiar um governante em dois, como se houvesse um Mr. Hyde e um Dr. Jekyll escondidos em Fernando Collor.
Quem pratica falta de decoro no exercício do cargo, ainda mais sendo o cargo o de principal funcionário público do país, revela-se um "monstro" que anula supostas bondades eventualmente praticadas ou pregadas pelo "médico".
Tudo isso dito, ainda assim preciso contrariar o meu fígado. Seria um erro tremendo se o julgamento do ex-presidente pelo Supremo fosse pautado pelo critério político, pela necessidade de saciar uma suposta sede de sangue do público, que nem sei se ainda existe.
Ou o STF acha que dispõe de provas incontestáveis que permitem a punição do ex-presidente ou deve absolvê-lo. A questão política já transitou em julgado, na Câmara, primeiro, e no Senado, depois.
É claro que a grande maioria dos julgamentos de um tribunal superior, em qualquer país do mundo, tem um tempero político, maior ou menor conforme o caso. Mas, neste caso específico, não cabe o tempero, dado que ele já foi aplicado no foro adequado.
Pode ser danoso para a Justiça a suposição de que, no Brasil, ricos e/ou poderosos não são condenados. Mais danoso, no entanto, seria condenar alguém, seja quem for, só para desmentir essa suposição, sem que haja provas contundentes.

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