São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Desagravo ao militante arrependido

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Li, consternado, carta de militante petista no Painel do Leitor de ontem. Renato Maurilio Lopes vive um drama pessoal intenso.
Ele escreveu: "Fazia campanha na rua acusando FHC de ser candidato das empreiteiras e dos banqueiros".
E prosseguiu: "Quando questionado sobre a origem dos recursos petistas, eu respondia, de peito aberto, que vinha das contribuições dos filiados e da venda de brochinhos, camisetas e outras bugigangas".
Sentindo-se como "marido traído", abandonado pelo partido, ele arremata: "Com as recentes descobertas das doações de empreiteiras e banqueiros ao PT, me pergunto: o que eu vou dizer às pessoas?"
Com a palavra, a Executiva do PT paulista. Reunida na segunda-feira para tentar reconstituir o hímen moral do partido, a direção do PT de São Paulo disse, em nota oficial, que as doações foram legais.
No meio da campanha, entre a lei e o justo, o PT ficou com o "justo", permitindo que Lula utilizasse caminhão de um sindicato, em aberta afronta à legislação.
Agora, entre o que sua militância considera justo e o legal, o partido opta por escorar-se na lei, em flagrante insulto aos tradicionais valores petistas.
Mas a direção do PT não ignorou de todo os sentimentos de pessoas como Maurilio Lopes. Em posição que reflete a opinião da maioria, considerou-se como um "erro político" o recebimento de contribuições de empreiteiras e bancos.
O problema é que, ao votar a proposta de devolução do dinheiro, a Executiva do PT paulista decidiu, por 15 a 1, que a idéia não faz sentido.
Em outras palavras, entre a indignação do militante e a dinheirama da "elite retrógrada", o PT preferiu ficar com o "erro político", que ninguém é de ferro.
Assim, caro militante arrependido, siga um conselho de amigo. Não sabe o que dizer às pessoas? Pois feche o peito e não diga nada. Fará melhor papel que o PT.

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