São Paulo, sexta-feira, 9 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Curador do MoMA elogia Oiticica e Clark

BERNARDO CARVALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim como o público (segundo pesquisa do Datafolha), o curador para pintura e escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Robert Storr, acha a coluna de livros de Matej Kren, da Eslováquia, uma das obras mais extraordinárias da Bienal.
Storr esteve em São Paulo por ocasião da abertura da mostra, quando falou à Folha. Entre os artistas brasileiros, cita em especial o trabalho de Adriana Varejão, que participava à época também de uma coletiva no MoMA.

Folha - Qual sua impressão geral desta Bienal?
Robert Storr - Esta é a segunda vez que venho. Só posso compará-la à anterior e a outras grandes mostras, como a Documenta e Veneza. Nesse sentido, acho que está muito mais viva e, apesar de seus aspectos desesperados, é também mais coerente. Não acho que isso tenha a ver com essa conversa de suporte, que é apenas um gancho.
A natureza recente dessas grandes mostras exige dos curadores arrumarem esse tipo de ganchos. Não acho que seja necessariamente uma boa coisa; é inócua, mas também não esclarece muito. Por outro lado acho muito interessante a exposição de Lygia Clark e Hélio Oiticica. Uma das coisas que os norte-americanos desconhecem é como as tradições da arte conceitual são fortes na América Latina.
Esses são dois dos artistas mais fortes dessa área. Jac Leirner não está presente, nem Cildo Meireles ou Waltércio Caldas, além de outros que poderiam ter sido integrados e reforçado a exposição. Se você tivesse um corte conceitual, ela poderia ser ainda mais impressionante. Mas tem variedade, o que não é fácil. E já é muito bom.
Folha - Você não coloca o trabalho de Mira Schendel no mesmo nível de Oiticica e Clark?
Storr - Não. Acho que ela fazia coisas simpáticas, mas não têm a mesma penetração. Fazem parte de uma certa classe de obras, enquanto Lygia Clark e Oiticica estavam modificando a linguagem de maneiras fundamentais.
Folha - Você gostou particularmente de algum artista?
Storr - A obra de Matej Kren, da Eslováquia, a torre de livros, é surpreendente. Não conheço o resto da obra dele. Normalmente, esse tipo de trabalho não costuma ser bem-realizado tecnicamente. No caso dele, é perfeito. Também acho que, no geral, a presença de artistas das ex-repúblicas soviéticas é muito forte.
Folha - E entre os brasileiros?
Storr - Acho Adriana Varejão uma artista muito interessante.
Folha - Por quê?
Storr - Por várias razões. A arte conceitual costuma ser vista como o contrário da pintura. O que ela faz poderia ser chamado de pintura conceitual, o que equivale ao que Guillermo Kuitca faz na Argentina. No contexto norte-americano, isso é muito pouco comum.
Folha - Vários críticos, inclusive americanos, têm atacado a onda de instalações como uma simples moda. A Bienal está fortemente marcada pelas instalações. Você acha que essa onda já começa a ser ultrapassada?
Storr - De jeito nenhum. Parte do que você menciona vem de um ponto de vista muito poderoso e conservador, que gostaria que as instalações desaparecessem para que se pudesse voltar a coisas mais manejáveis, como escultura e pintura. Já é tempo de acabar com essa falsa oposição entre instalação e pintura.
O que precisa ser dito é que as instalações dizem respeito a um controle total do espaço, e os espaços aqui na Bienal não são bons para as instalações. Não é uma crítica ao curador, Nelson Aguilar, mas à situação geral. Quando você decide fazer uma mostra como essa, onde a instalação é o centro, precisa contar com uma infraestrutura para sustentar essa proposta. Não dá para espalhar instalações de qualquer jeito.

Texto Anterior: Crossover pernambucano volta à cidade
Próximo Texto: Jessye Norman pede telão em praça pública
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.