São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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O raio X da estatização

LUÍS NASSIF

O documento Diagnóstico e Propostas de Gestão para a Eletropaulo produzido pelo Fexpa (Fórum de Executivos da Eletropaulo) destaca-se, desde já, como o mais isento e relevante diagnóstico até agora produzido sobre o loteamento que vem liquidando com as estatais brasileiras.
A Eletropaulo é uma empresa com receita anual da ordem da US$ 3,5 bilhões (quase uma Microsoft), patrimônio líquido de US$ 4,7 bilhões e prejuízo operacional projetado de US$ 700 milhões.
É uma empresa que tem virtudes, como destaca o documento. Os funcionários conseguiram preservar valores éticos e culturais, traduzidos pela "dedicação, disciplina, identificação com a empresa, capacitação técnica, orgulho pelo trabalho". O documento não exagera.
A soma de interesse que a rege, no entanto, torna impossível qualquer trabalho racional. "A partir da estatização (...) políticos e sindicatos (...) alteraram sua forma de atuação e todos, cada um em seu âmbito, voltaram-se para a procura da otimização de seus interesses mais próximos, com profunda influência na vida da empresa."
A primeira interferência é do acionista controlador –o Estado. O Conselho de Administração e a Diretoria executiva são formados pelas diversas correntes de partidos políticos, que indicam prepostos (...) com limitado compromisso e responsabilidade para com os interesses da companhia.
A segunda influência nefasta é dos políticos, que indicam prepostos para cargos comissionados e deixam transparecer "indícios de vinculação, obviamente de modo dissimulado, com fornecedores de obras, serviços e materiais –de acordo com a linguagem cuidadosa do documento".
A terceira influência é dos fornecedores que, amparados por suas entidades de classe conseguem influir na gestão da empresa, tanto "na execução de obras e no fornecimento de materiais, quanto pela pressão nos níveis de preços, levando a dispêndios que superam os valores ditados pelo mercado".
A quarta fonte de influências são os sindicatos que excederam suas atribuições de natureza sindical e ocuparam outros espaços, sendo hoje um dos canais de comunicação e/ou decisão na administração da empresa.
Há outros fatores específicos, como a falta de capitalização da empresa. Do processo de aquisição pelo Estado de São Paulo resultou uma empresa endividada. Depois, jamais o Estado cumpriu com suas obrigações de capitalizá-la.
A decisão de vender parte de seu capital para pagar despesas correntes é a prova viva de como os governantes perderam o compromisso com o futuro, neste modelo político apodrecido que tomou conta do país.
Esquema Itamar
A reportagem da revista "Veja", sobre conversas telefônicas entre o presidente da Telerj, José de Castro, e o Ministro das Comunicações, Djalma de Moraes, confirma a existência do esquema Itamar de caixinha política –que esta coluna vem denunciado há tempos.

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