São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rivalidade há de durar para sempre

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É um caso de amor e ódio que nasceu com eles e que haverá de perdurar para sempre. Primeiro, fez-se o Corinthians, em homenagem ao time inglês que por aqui passou no raiar do século. Um grupo de operários do Bom Retiro, sob a luz de um lampião a gás, na rua da Graça, quando a Europa mergulhava na guerra que 'acabaria com todas as guerras', sem saber, fundavam uma nova nação. Seus concidadãos –na maioria, imigrantes italianos– queriam materializar sua paixão num escudo, num jogo de camisas e calções, sua paixão pelo futebol, que engatinhava entre nós. Por certo, inconscientemente, esses meridionais dos trópicos inspiraram-se no seu oposto: os fleugmáticos ingleses. E, como premonição do que seria sua história, optaram pelas cores básicas do contraste absoluto, o sim e o não, a luz e a treva, o branco e o preto. Simples como a origem dos seus criadores, concisa e clara mensagem de seus objetivos. Mas contraditória como a paixão que desencadearia através dos tempos.
Tanto que, de seu próprio ventre, haveria de nascer, nem uma década depois, seu mais feroz opositor: o Palestra Itália, que, já, na Segunda Guerra, passaria a chamar-se Palmeiras, para ficar com os dedos.
Mais que um parto, foi uma ruptura, provocada pelos italianos que não suportavam ver o Corinthians se democratizando, abrindo-se aos espanhóis e até mesmo aos brasileiros.
Palestra e Corinthians, então, passaram a dividir com o Paulistano quase todos os títulos do futebol paulista. Mas não havia rivalidade igual. A tal ponto que, nem pensar, um jogador trocar a camiseta alvinegra pela alviverde ou vice-versa. Creio que o primeiro a romper essa escrita foi Cláudio Cristóvão do Pinho, um meia-direita santista, que, já nos anos 40, virou ponta e saiu do Parque Antarctica para tornar-se símbolo dos mosqueteiros dos anos 50.
Mais tarde, um avante rude mas estóico, chamado Geraldo José, haveria de fazer caminho inverso, para ser o algoz do seu ex-clube. Isso, a serviço do velho mestre Osvaldo Brandão, a única figura que conseguiu o milagre de, como técnico, fundir em torno de si a paixão de corintianos e palmeirenses.
Agora, no instante em que Palmeiras e Corinthians preparam-se para o evento único nas suas histórias –a disputa entre eles do título brasileiro–, o mais recente e emblemático exemplo: Rivaldo, um pernambucano habilidoso, que se revelou no Mogi-Mirim, projetou-se no Corinthians para ser o principal artífice na caminhada palmeirense em direção ao bi.
Emblemático, porque Rivaldo, na temporada anterior, representou, juntamente com Válber e Leto, mais o técnico Mário Sérgio, a virada corintiana. Os ares da modernidade sopraram no Parque São Jorge.
Só que o Corinthians não teve dinheiro para comprar seu passe. Foi uma novela, que terminou com o travo do dissabor de ver Rivaldo no Palmeiras. Afinal, se o Corinthians almejava a tal de modernidade, o Palmeiras já era a própria.
Foi, enfim, a vitória fora do campo que pode ser decisiva dentro do campo.

Texto Anterior: Tribunal cancela reunião sobre caso Edmundo
Próximo Texto: Zagalo convoca hoje a nova seleção
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.