São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Colaborador fala das filmagens

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pier Marco De Santi, 46, um dos mais importantes críticos italianos de cinema, passou rapidamente há duas semanas por São Paulo, onde veio dar uma palestra no Centro Cultural Itaú.
Amigo e colaborador de Federico Fellini e do compositor Nino Rota (1911-79), de cujo arquivo é curador, De Santi falou à Folha sobre as filmagens de "A Doce Vida" e "Oito e Meio", cujos roteiros estão no livro "Fellini Visionário".
"A Doce Vida"
"Na chamada sequência dos aristocratas, há uma festa que se conclui com uma orgia. Fellini, que era muito interessado nos rostos das pessoas, fez com que participassem da filmagem alguns verdadeiros aristocratas romanos, que, entretanto, não tinham entendido bem que, na montagem, a sequência acabaria em orgia.
Acontece que esses nobres pertenciam àquilo que nós chamamos de 'nobreza negra', isto é, eram nobres próximos ao papa. Alguns eram 'sediari', aqueles que carregam a cadeira do papa.
Quando o filme foi apresentado à censura, as autoridades católicas reconheceram alguns daqueles nobres e disseram que o filme era um filme-escândalo. A censura declarou o filme 'escluso per tutti' (vetado a todos). Foi o mesmo que mandar todo mundo vê-lo."
"Oito e Meio"
"O filme ficou célebre pela sequência final, de circo, com a marchinha de 'Oito e Meio', de Nino Rota. Na verdade, o filme originariamente se concluía de modo diverso, com uma sequência completamente muda: Guido (Mastroianni) decidia não realizar seu filme. Todo o set se fechava, ele tomava o trem para Roma. O trem passava por um túnel escuro.
O produtor Rizzoli achou esse final triste demais.
Fellini resolveu colocar no lugar a sequência que havia realizado como trailer de 'Oito e Meio', que tinha como música a 'Marcha dos Gladiadores', uma música tradicional de circo. Fellini pediu a Nino Rota que fizesse uma marchinha que se assemelhasse àquela e contivesse os temas do filme.
Se você prestar atenção, os personagens se movem na passarela fora de ritmo, porque a música de Rota tinha um ritmo distinto da 'Marcha dos Gladiadores'. A sequência mais célebre de 'Oito e Meio', portanto, é errada, do ponto de vista técnico."

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