São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Saída de Delors abre caminho para direita

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

A decisão de Jacques Delors de não se candidatar à Presidência da França no ano que vem abriu caminho para a direita, que não ocupa o Palácio do Eliseu desde 1981.
Os socialistas se vêem sem sua única chance de vitória; os conservadores, sozinhos no páreo, só temem o excesso de candidaturas.
Delors, presidente da Comissão Européia, anunciou sua decisão em uma entrevista à TV, na noite de domingo, que bateu o recorde de audiência no horário.
Ele alegou motivos pessoais (fará 70 anos ano que vem) e a impossibilidade de realizar reformas diante de um Parlamento com maioria esmagadora de direita.
Esse julgamento foi criticado por parte dos socialistas e da imprensa, para quem Delors poderia dissolver o Parlamento e obter uma maioria a ele favorável.
A desistência também decepcionou os partidários de uma integração maior na União Européia. Delors é o maior defensor do federalismo –sistema em que a UE tomaria decisões por maioria absoluta e não por unanimidade, o que permitiria maior agilidade e uma união mais rápida.
O Partido Socialista procura agora um nome que aceite ir para o sacrifício. Uma convenção decidirá em janeiro. Nas pesquisas, o mais bem cotado é Jack Lang.
Ex-ministro da Cultura, Lang tem apenas 10% nas sondagens, contra 32% do líder, o premiê de direita Edouard Balladur.
Lang disse ainda esperar que Delors volte atrás e o comparou ao presidente eleito do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
"Cardoso começou atrás nas pesquisas, venceu e vai dar um novo sopro ao Brasil", disse.
São raros, porém, os que ainda sonham como Lang. Delors voltou ontem a seu escritório em Bruxelas (Bélgica) e se recusou a falar.
Outros possíveis candidatos do PS são Martine Aubry, filha de Delors, e os ex-premiês Michel Rocard e Pierre Mauroy.
À direita, a desistência de Delors beneficia principalmente o prefeito de Paris, Jacques Chirac, que volta a ser o maior adversário de Balladur.
A ausência de concorrentes à esquerda, no entanto, pode animar outros eventuais candidatos conservadores.
Entre eles, figuram o ex-presidente Valéry Giscard d'Estaing; o presidente da Assembléia Nacional, Philippe Séguin; ou o deputado europeu Philippe de Villiers, que flerta com a extrema direita.
Essa divisão poderia abrir caminho para um candidato de esquerda no segundo turno –talvez até o deputado e empresário Bernard Tapie, apesar de seus problemas com a Justiça.(AFt)

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