São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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O Brasil nas Américas

A recém-encerrada Cúpula das Américas chamou a atenção pelo seu êxito. Embora nas negociações preliminares os Estados Unidos tenham tentado evitar que se discutisse o comércio, ao final, o encontro de Miami resultou em uma proposta de criação de uma área de livre comércio em todo o continente. A conclusão dos entendimentos iniciais está prevista para 2005.
A integração econômica, com a carga de liberalização das práticas comerciais que traz implícita, é sempre positiva. De fato, o mundo caminha cada vez mais para a eliminação do protecionismo.
Para o Brasil, coloca-se um desafio formidável, já apontado, em suas linhas gerais, na avaliação da Cúpula feita pelo presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso. De um lado, trata-se de evitar o risco de que um grande bloco das Américas, com a enorme atração representada pelo mercado dos EUA, acabe funcionando como desintegrador dos blocos menores como o Mercosul, que interessa diretamente ao comércio brasileiro.
Em 2005, entretanto, conforme o cronograma já aprovado e em avançado estágio de implementação, os quatro países membros do Mercosul já terão completado a sua união aduaneira e terão assim um cacife maior para negociar.
O outro desafio, mais complexo, é o custo e a qualidade da produção brasileira. Abrir-se ao mundo implica estar em condições de competir e o Brasil, em muitos aspectos, está em desvantagem. Há deficiências em infra-estrutura e qualificação da força de trabalho; há atraso tecnológico em vários setores; as exportações brasileiras são irracionalmente taxadas; no médio prazo, a política de estabilização pode manter uma taxa de câmbio desfavorável à producão nacional.
O desafio colocado pela área de livre comércio deve servir exatamente para que se enfrentem finalmente todos os componentes do chamado custo Brasil. Dez anos parece muito, mas não será tanto se considerado em termos históricos.
As notáveis perspectivas na área econômica para o continente contrastam porém com a sobrevivência de velhas distorções políticas. Cuba, por exemplo, não foi convidada para a reunião por ser um regime autoritário enquanto o pouco democrático Peru de Fujimori participou como qualquer outro país. Espera-se que na virada do século ambos já tenham superado o autoritarismo atual. De qualquer modo, esse tipo de julgamento com dois pesos e duas medidas não contribui para a completa democratização das Américas.

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