São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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O drama de uma secretária

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Ainda bem que não sou ministro do Supremo Tribunal Federal. Posso imaginar como deve ter sido difícil condenar ontem Rosinete Melanias, simples secretária de PC Farias, depois de ter livrado, na véspera, Fernando Collor. Certamente alguém vai me acusar de estar movido apenas pelo sentimento de pena –e acertou.
Para piorar, Rosinete acaba de ter um filho. Pode ser legal, mas, convenhamos, é injusto. O drama existencial de Rosinete revela o absurdo do desfecho do caso Collor.
Um desfecho com direito, ontem de madrugada, a comemoração ruidosa na Casa da Dinda, entre salgadinhos e uísque (Johnnie Walker). O ponto alto da comemoração teve o lago como cenário, onde soltaram-se 75 rojões.
O drama não é apenas o contraste entre um Collor soltando rojões e uma secretária ameaçada de passar anos na cadeia –ou a sólida existência de indícios de que não fosse o esquema operado por PC Farias, escudado no Palácio do Planalto, Rosinete Melanias passaria a vida num feliz anonimato de secretária.
Ela é, de fato, culpada. Mas, como se diz, entrou de "pato". E, ao contrário de PC ou Collor, cercados de amigos poderosos, não tem preparo psicológico para enfrentar esse vendaval ainda mais na sua fragilidade de mulher com filho recém-nascido.
Escrevi ontem (e reafirmo) que o STF agiu certo ao livrar Collor, apesar de ser injusto. A maioria dos ministros considerou que não tinha provas e enfrentou o desgaste da opinião pública.
Mas o caso Rosinete apenas reforça minha sensação de que somos um país injusto com os mais vulneráveis.
PS – O deputado José Serra foi convidado ontem por Fernando Henrique Cardoso para ocupar o Ministério do Planejamento. Aceitou. A dúvida agora é se voltarão as antigas brigas de poder entre os ministérios da Fazenda e do Planejamento para saber quem manda mais na política econômica do governo.

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