São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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'Supérfluos' voltam a brilhar nas gôndolas

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Produtos alimentícios considerados "supérfluos", que costumam ser eliminados da lista de compras ao menor sinal de crise, voltaram a brilhar nas gôndolas.
O Toddynho, um achocolatado líquido, passou da condição de produto de risco a estrela de vendas da Quaker.
A comercialização do Toddynho, líder dessa categoria de bebida, aumentou 70% desde julho passado, em comparação a igual período de 1993.
Nescau Prontinho, a marca rival, também passou a girar rápido nas prateleiras. Suas vendas cresceram 45% nesse período.
O ritmo de crescimento do achocolatado em pó foi inferior para as duas marcas –de 15% para o Nescau (líder do segmento) e o Quick, da Nestlé, e de 32% para o Toddy. Mas foi igualmente representativo da recuperação de mercado após o advento do real.
"São taxas recordistas, após sucessivos anos de queda acumulada de 40%", afirma Horácio Rocha, diretor comercial da Quaker, que investe US$ 1,5 milhão para aumentar em 20% a capacidade de produção do Toddy.
O iogurte, outro notório "barômetro" da vitalidade do consumo, registra vendas 40% superiores no segundo semestre e de 25%, se considerado o período de janeiro a novembro. A categoria movimenta US$ 600 milhões este ano.
"Não se trata de crescimento recordista, que foi alcançado no Plano Cruzado, mas de recuperação de uma indústria que sofreu com a crise", diz Ernesto Rodrigues, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Iogurtes (Abrini).
"Em 1992, o mercado de iogurte regrediu ao patamar de 1984. Agora estamos retornando ao nível de 1988", acrescenta Rodrigues, que estima em 250 mil toneladas os volumes comercializados este ano.
"Como a diferença de preço em relação às marcas populares ficou pequena, após a estabilização econômica, os consumidores das classes D e E passaram a comprar marcas tradicionais", afirma Randal Soares, gerente da Nestlé.
Com ele concorda Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
"Até junho passado, as marcas mais baratas eram as mais vendidas", diz Alves. "Depois, as tradicionais reforçaram a liderança. Desde novembro aumentou também a procura pelos chamados supérfluos".
Palmitos, aspargos e compotas de pêssego, cujas vendas eram limitadas às lojas frequentadas pela classe A, passaram a ser procuradas também pela clientela da classe D.
Tanto os fabricantes de achocolatados como o de iogurtes planejam investimentos para ampliar a produção.
A Quaker, por exemplo, anuncia que está desembolsando US$ 1,5 milhão na compra de equipamentos para aumentar em 20% a capacidade das linhas do Toddy, para dar conta do aumento de demanda no mercado de achocolatado em pó, que movimenta US$ 150 milhões anuais.
Outro tanto será aplicado para aumentar a produção do Oatmeal, uma aveia com frutas cujo abastecimento está hoje limitado a 60 toneladas mensais.
Para se ter idéia da tendência de "uptrading" (aumento de demanda dos itens mais caros) no mercado de alimentícios basta citar que as vendas de farinha de milho cozido diminuíram na mesma velocidade em que as do Toddynho avançaram.

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