São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bolsa paulista cai 12% em dois dias

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços das principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo despencaram 12% nos últimos dois dias.
O movimento de baixa foi detonado pela crise cambial mexicana, mas sua magnitude foi ampliada pelas perdas de grandes investidores nos mercados derivativos de opções e futuros.
A crise mexicana, associada a uma intensa boataria de corretoras com dificuldades para honrar suas operações nas Bolsas de Valores (Bovespa) e de Mercadorias & Futuros (BM&F) de São Paulo, gerou um clima de pânico no mercado financeiro.
Houve repercussões também no mercado de câmbio, que obrigaram o Banco Central a realizar quatro leilões de venda de dólar comercial e seis de flutuante (dólar-turismo) para conter a alta da moeda norte-americana.
O raciocínio do mercado foi de que a desvalorização de 40% do peso mexicano em relação ao dólar nos últimos dois dias gera perdas nas quotas dos grandes fundos norte-americanos especializados nos mercados emergentes.
Isso, explica Alfredo Moraes, vice-presidente do Banco ABC-Roma, estimula os investidores desses fundos a resgatarem suas quotas, obrigando os seus administradores a venderem papéis de empresas do México, Argentina, Chile e Brasil.
"Mas o mercado sempre tende a exagerar esse impacto, tanto que houve uma recuperação das cotações durante a tarde", disse Raul Pereira Barreto, vice-presidente do Banco Mercantil de São Paulo.
"Falou-se muito que os investidores estrangeiros estavam vendendo papéis na Bovespa, mas eu não vi isso ocorrer", disse André Pires, diretor da corretora Geral do Comércio. "Ao contrário, vi estrangeiros comprando".
Uma operação de box de opções, não completada na última segunda-feira, quando venceram os contratos com vencimento em dezembro, fez a corretora Sudameris ficar com US$ 40 milhões em ações da Telebrás em mãos, segundo apurou a Folha.
Isso porque o seu parceiro deixou de exercer uma das quatro opções envolvidas. A corretora vendeu os papéis nos últimos dias 19 e 20, bancando prejuízos da ordem de US$ 800 mil, contribuindo para derrubar as cotações.
A queda nos preços das ações foi ampliada também pelas perdas dos investidores que estão com posições compradas no mercado futuro de Índice Bovespa da BM&F. Os ajustes diários a serem depositados por esses investidores somam R$ 125 milhões somente com as baixas dos dois últimos dias. Para obter os recursos necessários, eles estariam vendendo papéis no mercado à vista.

LEIA MAIS
sobre o mercado financeiro na pág. 2-4.

Texto Anterior: Defasagem cambial traz crise
Próximo Texto: IR fixa regras da declaração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.